Já fiz parte de várias igrejas e denominações. Algumas foram até demasiadamente enfáticas com relação à santidade. Já ouvi comentários como: “com cada pessoa que você ficar, são dois anos a mais que você tem que esperar seu namorado (a)”. É mais ou menos como a história do bicho-papão que nós ouvimos na nossa infância. Muitas vezes, em minha adolescência, subi as escadas do altar sob a ameaça de que, se eu estivesse em pecado, poderia morrer ao tocar o Altar do Senhor.
Exageros? Com certeza. Mas você vai presenciar fatos parecidos em muitas igrejas evangélicas (uma definição melhor seria fundamentalistas) do mundo afora. Sem contar o medo aterrador de que alguém da igreja receba uma revelação sobre o seu pecado e te exponha em frente a todos. Ou eu sou o único que já sofreu com essas coisas?
Infelizmente tenho visto muitas pessoas dessas igrejas com seus casamentos destruídos, meninas grávidas, gente longe de Deus. Creio que o motivo principal está no fato de essas pessoas não conseguirem atingir o nível que a igreja propunha (ou impunha). Sendo assim, se sentiam não-aceitos por Deus. Afinal, se Deus os rejeitou, então nada mais justo do que seguir seus próprios prazeres.
Eu trabalho na secretaria da igreja, e muitas vezes atendo alguns mendigos que vem pedir dinheiro, comida ou uma Bíblia. Conversando com um deles, insisti para que ele conhecesse a igreja, viesse a um dos cultos semanais. Sua resposta foi a seguinte: “Vou acertar minha vida e depois venho”. Eu logo respondi que a igreja o ajudaria a acertar sua vida. Mas fiquei pensando durante aquele dia inteiro sobre como a igreja é elitista. Nós somente aceitamos pessoas que demonstram uma vida pura, íntegra e madura. Onde foi parar a visão da Caverna de Adulão, ou dos publicanos e pecadores? A igreja, muitas vezes, se torna o lugar onde temos que mostrar perfeição para ser aceitos, e não o lugar onde somos aceitos para chegar à perfeição.
A causa de tudo isso, creio eu, é uma das piores manifestações do orgulho: a justiça própria. Ela é, talvez, a pior inimiga da cruz de Cristo. Ela motivava os cristãos do primeiro século a continuarem seguindo a Lei, fato esse que consumiu muita energia das pregações do Apóstolo Paulo. Ela costuma usar o disfarce de santidade, na mesma medida que o diabo usa sua fantasia de anjo de luz.
Acho importante definir a diferença entre justiça própria e santidade. Em minha humilde e leiga opinião, acredito que a justiça própria se baseia no próprio indivíduo, enquanto a santidade se baseia no próximo. Hebreus 12:14 diz: “Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá ao Senhor.” Perceba que a Bíblia coloca a relação inter-pessoal antes da santificação. E assim é em todo o Novo Testamento. Tudo se resume em amar a Deus acima de todas as coisas e ao nosso próximo como a nós mesmos. Isso é santidade. Ponto.
Santidade, portanto, são todos os atos que pratico baseado no amor pelo meu próximo e a Deus. Justiça própria são os mesmos atos, mas sem essa motivação. Disso a igreja está cheia! Essa falsa santidade tem sido na igreja como os cursos de pós-graduação tem sido no mundo: um caminho para conseguir um cargo maior.
Desde sempre ouvi que santidade significa separação. Mas separação do que? Do mundo, obviamente. A justiça própria não nos separa do mundo, mas nos aproxima, pelo fato de que o orgulho é a substância que nos faz mais parecidos com o mundo. Outra diferenciação muito clara: a justiça própria impõe, enquanto a santidade compreende e auxilia em amor.
Se nós soubéssemos o que é amar, noventa por cento dos problemas da igreja estariam resolvidos. Os outros dez por cento seriam a perseguição externa. O evangelho é muito claro em dizer que devemos preferir o outro a nós mesmos, então porque não vivemos isso?
As igrejas estão supervalorizando a santidade e esquecendo-se do amor ao próximo, das relações interpessoais. Isso está gerando indivíduos legalistas, que vivem a disciplina das boas obras, mas que não olham na cara do irmão da própria igreja. Sinceramente, estou muito cansado dessa realidade!
Sonho em ter uma igreja voltada para pessoas não-perfeitas e com problemas. Só assim me vejo preparado para assumir um cargo de liderança.
P.S.: Santidade não tem nada a ver com o exterior.
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Existe muito legalismo!
O lugar do bebado, prostituta, maconheiro eh na igreja!!!
Muitas vezes transformam santidade em moralismo!!!
A igreja precisa de livres pensadores,filosofos e questionadores!
Assim foi Jesus!!!
paz!
1 Jo 1:7 "Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado."
Ótimo atigo Muka.
Coloco o versículo acima pois entendo que andar na luz é ter a consciência limpa diante dos irmãos para sermos purificados. E mais que é isso, é termos a transparência para assumirmos nossa frágil condição como pecadores, mas dispostos a sofrer transformação.
Deus te abençoe!
Eu amo este discurso como qualquer cristão maduro e verdadeiro.
Fato é que eu não sei como ainda temos pessoas deste tipo nas igrejas! hehe Será que se eu pregar este discurso na porta eu consigo que alguém abrace a menina grávida, o amigo gay e não sufoque o desgarrado?
E eu gosto de dizer que santidade é separação, mas para Deus. Parece-me mais correto, visto que nos separamos do mundo por causa de Deus, né.
Com carinho, Deus abençoe.