Amar mais a Deus que meu pai e minha mae?




“Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sai filha mais do que a mim não é digno de mim.” (Mateus 10:37)

Creio que não há nenhuma passagem da Bíblia que não transborde o amor de Deus. Essa passagem sempre foi um trecho que aceitava com facilidade. Jesus fez tanto por mim na cruz que o mínimo que eu devia fazer era amá-lo mais que a qualquer outra coisa nesse mundo. Nada mais que retribuir um amor que me foi dado.

O discurso parece bonito, mas no fundo eu sentia certo egoísmo divino nessa passagem. Como humano que sou pensava que Jesus tinha o total direito de pedir isso, dado todo o sacrifício praticado por Ele. Mas o amor incondicional e desinteressado de Jesus não encaixava muito bem nesse pedido.

Nesses últimos dias comecei a ver esse texto de uma perspectiva diferente. Meu avô, após muito tempo de complicações de saúde, veio a falecer na semana passada. Acho que não há lugar algum que o ser humano se sinta tão desprovido de certezas e tão inseguro do que quando se depara com um ser humano, igual a ele, morto. Creio que, no plano original do Criador, o ser humano não foi programado nem para morrer e nem para romper relações. Quando enfrentamos algumas dessas situações somos tomados de uma crise interna, por maior que seja a nossa habilidade de enfrentar confrontos emocionais.

Voltando ao dia do velório do meu avô. Todos estavam muito conformados, afinal já eram anos de debilidade física. Mas sempre há uma pequena crise reservada para quando nos deparamos com a realidade da morte. E a crise, se bem manejada, pode abrir a janela da nossa inteligência.

Nesse dia refleti muito. Pensei em várias situações. Pensei em diversas possibilidades e variáveis. Então, como que chegando ao fim de um labirinto, minha mente lembrou dessa passagem, que eu acreditava conter um teor de egoísmo divino. Percebi que, na verdade, este texto estava carregado de proteção e preocupação divinas.

Imagine como seria para nós, meros humanos, encarar a morte de uma pessoa amando-a mais que a Deus? Se amamos a Deus acima de qualquer coisa nós cremos no seu propósito e no seu compromisso com o nosso bem-estar eterno. Mas se há alguém acima dele, com certeza a ausência dessa pessoa geraria em nós uma rebeldia cega que nos afastaria de Deus e do seu propósito. Assim estaríamos fadados a viver a eternidade longe daquele que nos conquistou a possibilidade de viver uma vida sem fim.

Deus sabe que o homem adquiriu para si a infelicidade da morte. Não estava no projeto original dEle, porém na sua rebeldia original o ser humano pôs fim no desejo divino de viver eternamente na companhia do homem. Jesus conquistou novamente a vida eterna para a humanidade, porém ainda passamos pela morte do nosso corpo terrestre.

Para receber a vida eterna precisamos aceitar o sacrifício de Jesus por nós. Isso faz com que, infelizmente, nem todas as pessoas que amamos passem a eternidade conosco. Se amamos mais a uma pessoa que a Deus podemos cometer o erro gravíssimo e insano de rebelar-se contra Deus e abdicar do direito de vida eterna que temos. Porém, se amamos mais a Deus que qualquer outra pessoa, vamos ter a certeza que o final do filme da nossa vida seja feliz. Essa é a vontade de Deus para nós: um final feliz!

A proteção de Deus é abundante sobre nós. Seus propósitos eternos são encharcados e transbordantes de amor.

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A construção




“Na casa de meu Pai há muitos aposentos; se não fosse assim, eu lhes teria dito. Vou preparar-lhes lugar. E se eu for e lhes preparar lugar, voltarei e os levarei para mim, para que vocês estejam onde eu estiver”. (João 14:2-3)

Falar do céu é complexo. Jesus diz a seus discípulos, na ocasião dessa “reunião final” que Ele estava indo para preparar-lhes lugar na casa de seu Pai. Não há dúvida que a casa de Seu Pai é o céu.

A última frase desse texto contém uma declaração explícita de amor que Deus vem fazendo desde o Gênesis e a criação do homem: “para que vocês estejam onde eu estiver”. O desejo maior de Deus (e permita-me acreditar que todos os seus atos e pensamentos giram em torno disso) é passar a eternidade ao lado de você e de mim.

Havia duas árvores no jardim do Éden: a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal e a Árvore da Vida (Gênesis 2:9). O homem foi proibido de comer da primeira árvore, o que não era nada mais que a opção de Deus de conceder livre arbítrio ao homem. Porém em nenhum momento a Bíblia cita que o fruto da Árvore da Vida não podia ser comido. Isso nos mostra que o desejo divino, desde a criação de Adão, era que ele passasse a eternidade ao lado de seu criador.

O acesso a Arvore da Vida foi bloqueado por anjos, conforme nos conta o livro de Gênesis, pois seria um grande desastre deixar que o homem, agora pecador, vivesse eternamente no pecado. O mundo seria um grande caos. Porém Jesus veio dar a possibilidade ao homem de ser livre do pecado e viver eternamente ao lado de seu Criador, num ambiente perfeito.

Percebi, numa cerimônia de cremação recente em que participei, que o homem anela o céu inconscientemente. O lugar de cremação era em um campo, de total paz, onde tudo parecia estar em harmonia. Os cemitérios mais caros também seguem essa mesma fórmula. Como já citei anteriormente, o homem não foi programado para morrer, e quando enfrenta a morte, inconscientemente ele percebe que o céu é o seu lugar original. O céu é o lugar onde o homem pode ser, valendo-se da redundância, completamente completo.

Nós passamos toda nossa vida tentando ser completos. Procuramos nos completar com relacionamentos amorosos, trabalho, vícios, bebida, diversão. Mas na verdade isso tudo são sentimentos “postiços” do céu. Nada disso pode e nem vai nos completar. Ao contrário, muitas dessas coisas vão nos levar a escravidão da dependência. O ser humano anela inconscientemente por seu lugar de origem.

Mas o ponto onde quero chegar não é só esse. O céu é a certeza que Deus deu a seus filhos de que, não importa o que possa acontecer no filme de nossa vida, o final vai ser feliz! Qual é sua definição pra êxito na vida? Um empresário bem-sucedido que viaja todo mundo, mas acaba morrendo e indo para um lugar de sofrimento. Ou um mendigo que sofreu sua vida inteira, viveu sozinho, mas morre e encontra o lugar onde ele é completo e rodeado de pessoas que formam uma família?

Jesus nunca nos prometeu uma vida fácil, mas sim uma vida vitoriosa. Com certeza todos nós passaremos por aflições. É a lei da semeadura e da colheita. O homem semeou pecado e agora toda a sua descendência colhe tribulações. Mas temos a certeza que seremos vitoriosos se estamos com Jesus. E nem a morte, que era a principal derrota e pior medo do ser humano tem mais efeito. Até sobre ela somos vitoriosos por meio de Jesus.

Na nossa vida podemos passar por lutas, aflições, desânimos, injustiças, perdas, e tudo mais que você puder imaginar. Porém Deus, no seu perfeito amor, já tem programado um final extremamente feliz para nós!

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Os segredos de Jesus



“Um deles, o discípulo a quem Jesus amava, estava reclinado ao lado dele. Simão Pedro fez sinais para esse discípulo, como a dizer: ‘Pergunte-lhe a quem ele está se referindo’. Inclinando-se esse discípulo, perguntou-lhe: ‘Senhor, quem é?’ Respondeu Jesus:’Aquele a quem eu der este pedaço de pão molhado’”. (João 13:23-26)

Eu acho incrível a vida do apóstolo João. Ele entendeu o amor de Jesus como nenhum outro discípulo, e isso fez toda a diferença na sua vida e no seu ministério.

O relacionamento de João com Jesus foi distinto. Podemos ver isso fazendo um paralelo com Simão Pedro, outro discípulo de Jesus. Na última ceia, enquanto Pedro fazia juras de amor ao Senhor, sendo surpreendido com a declaração de Jesus de que Pedro o negaria três vezes dentro de poucas horas, João estava sentado ao lado de Jesus, e o seu grande Líder lhe confia um segredo. Na crucificação todos deixaram a Jesus, inclusive Pedro que devia estar se lamentando em algum lugar de Jerusalém. João, porém, estava ao lado de Jesus até o final e Jesus lhe confia a responsabilidade de cuidar de sua mãe.

É básico à vida cristã que entendamos o amor divino. Melhor dito, esse amor é incompreensível. Tudo que temos que fazer é aceita-lo. E assim poderemos viver a plenitude que João experimentou em sua vida.

O fato que me chama mais atenção nesse diálogo é a posição de cada um dos envolvidos. Jesus era o líder. João, o discípulo. Era o último momento de Jesus com seus discípulos, a chance de entregar todas as diretrizes do futuro. Porém, eles estão comendo e conversando. Jesus informa a seus discípulos que um deles seria o traidor.

Até aí tudo bem, a profecia tinha que se cumprir de que um dos que se assentavam com Jesus o iria trair. O que me impressiona é que João se arrisca a perguntar a Jesus qual deles o trairia. Mas o que me impressiona sobremaneira é que Jesus responde a essa pergunta. Eu não vejo nenhum sentido em João saber quem seria o traidor. João não impediria isso, e obviamente Jesus não o deixaria impedir caso ele tivesse esse poder. Mas ele não tinha. Jesus simplesmente conta esse segredo a João por causa da amizade que os envolvia.

Sempre aprendi, em todas as aulas de liderança que tive, que o líder não deve se expor. Temos a idéia de que um líder, para que seja bem-sucedido, não deve ter uma relação demasiadamente íntima com nenhum de seus liderados. Contar segredos pessoais então está totalmente fora de cogitação. Ainda bem que Deus não pensa como nós!

Jesus não se importava tanto com a liderança quanto com a relação. Para ele era muito mais importante a relação pessoal do que qualquer coisa. Na verdade, sua liderança foi construída com base nas relações interpessoais com seus discípulos. E essa relação não era fingida, como é de costume de muitos líderes cristãos e não-cristãos. Jesus se doava a relação. Não tinha medo de que os seus discípulos conhecessem seus segredos.

Ainda hoje precisamos saber que o interesse de Deus em nós não é ser nosso líder. Seu interesse é muito mais profundo. É de uma relação em que ambos os lados se doem totalmente. Jesus se doou totalmente na cruz para que essa relação dê certo e continua se doando. Nós também podemos experimentar esse nível de relação. Nós, ainda hoje, podemos ouvir os segredos de Jesus.

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