Adeus, ano velho!

Disse Deus: "Haja luminares no firmamento do céu para separar o dia da noite. Sirvam eles de sinais para marcar estações, dias e anos” (Gênesis 1:14)

Qual é o seu sentimento ao final deste ano? Há aqueles que se alegram por ele ter chego ao fim. Há aqueles que se sentem frustrados por não terem alcançado suas metas no ano que passou. Conheço ainda pessoas que sentem uma tristeza sem explicação ao final de cada ano.

São muitos os sentimentos que aterrissam juntamente com o começo de um novo ano, mas há um que é mais marcante e comum a todos nós: a esperança. Nós acreditamos que os próximos 365 dias serão melhores do que aqueles que passaram. Fazemos novas metas, tiramos o pó dos sonhos que estavam guardados no fundo de nossa memória, planejamos atitudes diferentes, etc.

Esse sentimento de progresso, ou seja, de que o futuro será melhor, foi, de certa forma, implantado em nossa cultura pelo cristianismo. Nas culturas orientais, a chinesa, por exemplo, a história é cíclica: o ano será bom ou mau de acordo com o zodíaco. Já o cristianismo ocidental plantou na cosmovisão popular a ideia de que o melhor sempre está por vir.

Essa é a razão pela qual sempre iniciamos o ano cheios de esperança. E aqui está a criatividade de Deus: Ele criou estações, dias e anos. Intencionalmente, o Criador gerou ciclos que se repetem, os quais nos convidam a uma reflexão das nossas atitudes e da nossa vida no ciclo que passou, para não cairmos nos mesmos erros e, dessa forma, possamos progredir.

Assim crêem os judeus, dos quais herdamos nossa fé. O ano novo judeu começa com um tempo de reflexão e arrependimento pelos pecados e termina com a proclamação do perdão. Como seria diferente o mundo se cada indivíduo dedicasse o tempo de suas comemorações de fim de ano à reflexão e revisão de si mesmo ao invés de pular ondas, comer lentilhas e vestir-se de branco - um belo disfarce para um interior cheio de problemas.

Deus poderia ter criado um mundo totalmente linear, onde as estações e os ciclos não se repetissem, mas creio que esta foi a intenção do Criador em sua infinita sabedoria: incitar o homem a um tempo de revisão e enchê-lo novamente de forças e esperança.

O ano novo acaba sendo a anunciação do caráter de Deus e do evangelho de Cristo: há sempre uma segunda, uma terceira, uma quarta e infinitas chances para aquele que verdadeiramente se arrepende e busca ao Senhor. E sim, na vida do cristão, o melhor sempre está por vir!

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Por que ser cristao?

Você, sendo cristão, já se sentiu atraído pelo estilo de vida daqueles que não o são? Já teve a sensação de que alguma pessoa que não crê em Jesus Cristo leva uma vida mais feliz ou mais plena que a sua?

Esse tipo de sentimento não é incomum e leva multidões de crentes a abandonar sua fé. A sociedade que se move em torno do eixo do prazer e do bem-estar pessoal exerce uma atração intensa sobre qualquer ser humano. O sexo se tornou o ídolo de muitos: as mulheres se expõem e esculpem artificialmente seus corpos na ilusão de que um olhar ou um elogio vulgar signifique aceitação e amor. Os homens constroem seus projetos de vida na intenção de serem ricos e bem-sucedidos para ter uma dessas mulheres que se sobressaem ao seu lado. O conforto e a estabilidade completam o quadro politeísta da adoração de quem se orgulha por não adorar a nenhum ser sobrenatural.

O quadro é lamentável, porém, é a realidade, e uma realidade que atrai. Nessa vida de “prazer”, o ser humano encontra uma falsa sensação de que está no céu. Mal sabe ele que o caminho para o inferno é cheio de rosas, enquanto a estrada para o céu e estreita, apertada e difícil de ser percorrida.

Em vista disso, levanta-se uma grande questão na igreja atual: o que o cristianismo realmente tem a oferecer? É sobre isso que quero falar neste post. Mas antes é necessário esclarecer algumas coisas que, apesar de que alguns pastores assim o preguem, o cristianismo não oferece.

O cristianismo não oferece uma vida mais fácil. Não pense que o cristianismo resolverá todos os seus problemas. Entre as últimas frases de Jesus nesta terra está: “no mundo tereis aflições”. O cristianismo não oferece conforto nem estabilidade. Pergunte a Jesus ou ao apóstolo Paulo se eles tiveram vidas confortáveis e estáveis. Além disso, a perseguição, em suas diversas facetas, inevitavelmente será parte do caminhar daquele que se converte. O cristianismo não promete riquezas; a promessa é de que o justo nunca passaria fome, não que ele sempre teria o carro do ano ou uma casa enorme.

Se você está baseando sua permanência na fé em Jesus em alguma dessas hipóteses acima, creio que você deve iniciar urgentemente uma revisão de vida baseada nas palavras de Jesus.

O que, então, nos promete Jesus? Qual é o tipo de vida que se oferece a um cristão? Muitos são os pontos a citar-se aqui e foge da minha capacidade conhecer todos eles. À primeira vista, os benefícios de ser um cristão podem não parecer tão atrativos, mas peço que você dedique tempo para meditar neles e perceber como estes podem mudar radicalmente a vida de qualquer ser humano, tornando-a abundante.

1) Para o cristão, todas as coisas tem um propósito. “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Romanos 8:28). Na vida do cristão, nada acontece por acaso. Tudo que lhe acontece, Deus usa para cumprir o seu propósito, e o propósito de Deus culmina na felicidade do crente. Não há nenhum tipo de sofrimento que Deus não use para o bem do cristão. O sofrimento para o não-cristão não tem propósito, é somente motivo de dor. O desgosto da perda de um familiar, por exemplo, pode terminar com a felicidade de uma vida toda. Não há muito consolo para aquele que não crê, mas aquele que crê em Jesus sabe que não importa qual seja a história, o final será feliz.

2) O cristão nunca está só. “E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século” (Mateus 28:20). Por melhor que seja a festa para o não-crente, sempre chega o momento de voltar a casa e estar sozinho. Por mais numerosas que sejam as amantes, algum dia ele ficará velho e todas o abandonarão. O crente em Jesus nunca está sozinho. Deus não nos abandonou após a morte de Cristo, mas enviou o Espírito Santo que é a presença de Deus com os que crêem nele vinte e quatro hora por dia, todos os dias do ano. Quando você precisa de um amigo, você pode conversar com ele; quando precisa de respostas, ele te dará; quando precisar de descanso, ele te guiará às águas tranquilas. Por mais que todas as pessoas te abandonem, Ele está presente e nos dá o privilégio de o sentir.

3) O cristão não depende de aceitação. “Portanto, aceitem-se uns aos outros, da mesma forma como Cristo os aceitou a fim de que vocês glorifiquem a Deus” (Romanos 15:7). O ser humano vive uma busca eterna por aceitação. Todos buscam, de alguma maneira ou de outra, serem aceitos pelos outros. Isso gera uma sociedade doentia na qual vivemos. O cristão, porém, não precisa viver nessa busca, já que ele já é aceito pelo seu Criador e essa situação não pode ser mudada porque não depende dele, senão que depende do que Deus já fez. Foi pela morte de Jesus que todos somos aceitos diante de Deus e, se mantermos a fé nele, sempre estaremos nessa condição de aceitos, apesar de qualquer feito que possamos realizar. Somos livres dessa busca desenfreada pela aceitação e, assim, podemos ser livres e felizes com nós mesmos.

4) O cristão tem a garantia de que sempre lhe será feito justiça. “Pois a ira do homem não produz a justiça de Deus” (Tiago 1:20). ”Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos” (Mateus 5:6). Todos nós sabemos que a justiça humana é falha. O não-cristão vive na tentativa de estabelecer a justiça para si, pois não há muita esperança de que alguma outra pessoa possa fazê-lo por ele. Ele necessita autopromover-se para que seu esforço seja visto. E, se a justiça não é realizada, não resta muito mais que as lágrimas. O cristão sabe que a justiça de Deus será feita, neste mundo ou no porvir. Nada - nenhuma atitude - ficará sem recompensa. Assim, ele não precisa viver como seu próprio advogado, na esperança de que a justiça seja feita, mas ele apenas vive na certeza de que Deus é seu Juiz e, ao mesmo tempo, o seu Advogado.

5) A morte não é o fim. "Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16). Este é o auge da fé cristã: a abolição da morte. Apenas essa certeza já é capaz de mudar a vida de qualquer ser humano. Jesus Cristo “participou dessa condição humana, para que, por sua morte, derrotasse aquele que tem o poder da morte, isto é, o diabo, e libertasse aqueles que durante toda a vida estiveram escravizados pelo medo da morte” (Romanos 8:15). Creio que ninguém está preparado para o momento da morte, mas também acredito que não haja pessoa mais preparada para esse momento que o cristão. Não há esperança para o não-cristão que morre ou que vê algum dos seus queridos falecerem. Não há consolo. Por isso, a morte se torna algo tão temido. Mas Jesus veio nos libertar do medo da morte. Ela é só um momento e não o fim de nossa existência. O que parece ser o nosso fim é somente uma elevação de nível. Podemos viver livres do medo da morte, com a certeza de que aquele que ressuscitou a Jesus de entre os mortos também nos ressuscitará.

Podemos ver que realmente Jesus veio nos libertar com uma liberdade que nos leva à felicidade. Essas verdades são tão profundas que fica difícil enxergar todas as suas consequências na vida do ser humano. Essa mudança de paradigmas liberta a qualquer que esteja aprisionado em seus próprios esforços por sua vida. Descanse sua vida nas mãos do Senhor. Entregue-se a Ele e você viverá esta vida abundante.

Por último, gostaria de citar a célebre frase de C. S. Lewis: “Abracei o cristianismo por ele ser verdadeiro e não por ser terapêutico”. Acima de todos os benefícios que o cristianismo possa trazer está o fato de ele ser verdadeiro, e isso basta para que seja digno de crédito. Parafraseando Lewis, o cristianismo, após ser aceito como verdadeiro, torna-se terapêutico.

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O que cantamos I

Com certeza você já se deparou com alguns versículos no livro dos Salmos que parecem um pouco incompatíveis com a Bíblia. “Desperta para castigar todas as nações; não tenhas misericórdia dos traidores perversos” (Salmo 59:5). “Quebra os dentes deles, ó Deus” (Salmo 58:6). “Fiquem órfãos os seus filhos e a sua esposa, viúva” (Salmo 109:9). Esses versículos não lhe chamam a atenção? Como Deus permitiu que eles estivessem no cânon bíblico?

Esses são os Salmos Imprecatórios. Neles, o salmista expressa todo o seu desejo de vingança e o seu ódio contra os seus perseguidores - aqueles que não servem a Deus. Tais salmos parecem uma contradição bíblica, mas há muitos fatores a ter-se em conta na hora de interpretá-los. Primeiramente, devemos considerar a cultura do Antigo Oriente Médio e a linguagem apaixonada do povo hebreu. Também, é importante considerar que o Antigo Testamento é somente a preparação da revelação divina e não a revelação completa.
Contudo, o salmista não se vinga, mas entrega tudo o que sente nas mãos do Senhor. Há ainda outros fatores que nos ajudam a compreender melhor essas poesias regadas a ódio, mas quero tentar encontrar algum ensino relevante. Se Deus permitiu que esses versículos fizessem parte do Livro Sagrado, há algo para aprendermos.

Lendo esses hinos e estudando o livro dos Salmos, pude perceber que a emoção é o que rege a mão do compositor no momento de escrever uma canção dedicada ao seu Deus. Cada salmo é constituído de uma emoção autêntica, não fingida, onde o salmista não se preocupa em passar uma bela imagem de si mesmo. Sua única preocupação é expressar seus sentimentos a Deus.

Há algum tempo, a ideia de “adoração profética” se tornou popular. Muitas vezes, nesse meio, os compositores falavam de “canções reveladas”. Já ouvi testemunhos de ministros de música que foram até o céu e escutaram a música que se cantava ali. Ouvi também a história de um reconhecido ministro que não escutava mais nenhum tipo de música, pois queria escutar a música que se tocava no céu para compô-la.

Porém, no âmbito bíblico, as músicas surgiam dos próprios homens, de sua própria emoção e não de revelação divina. O povo hebreu sempre foi intenso na demonstração de suas emoções. Quando estavam de luto, choravam por vários dias. Quando estavam indignados, rasgavam sua roupa. Quando estavam alegres, dançavam com todas suas forças. Os salmos imprecatórios são a prova disso.

Outro pensamento que ronda as ministrações de louvor em nossas igrejas é de que cada pessoa na congregação deve ignorar todos os seus sentimentos e cantar a Deus com alegria em todos os momentos. “Pule! Grite! Corra! Faça festa!” Inclusive, já ouvi a frase “quem não pula não vai para o céu!” Há pessoas que, assim como eu, são mais introspectivas, por isso, não se sentem muito cômodas movimentando-se muito durante o período de música. Cada pessoa tem uma personalidade, que é manifestada em momentos como esse. Deus respeita a personalidade de cada indivíduo. Não existem boas ou más personalidades. O ministro de louvor deve aprender a respeitá-las também.

Eis a questão: quando um pai conversa com seu filho, o que ele quer escutar? Um fingimento, ignorando seus sentimentos e aparentando ser forte? Ou a verdade do que ele realmente sente para que o pai possa consolá-lo?

A música é, talvez, o meio mais efetivo de expressar as emoções. Foi um presente que Deus nos deu: incluiu a música no culto para que ela nos ajude a expressar-nos melhor a Ele. Entretanto, há muito tempo uma mentira é pregada nas igrejas: as emoções e sentimentos são opostos ao espírito - as emoções são carnais e não espirituais. Este dualismo errôneo entre os sentimentos e espírito tem proporcionado às igrejas os momentos de música mais pobres e sem sentido que se possa imaginar. As letras das músicas não refletem a realidade de nenhum daqueles que precisam se expressar a Deus. A complexidade da linguagem quase apocalíptica assusta qualquer novo convertido, que não faz ideia do que é ser “noiva do cordeiro”, ou do que é o “fogo” que “vem me queimar”.

Imagino que Deus está cansado de ver seus filhos fingindo coisas que não são e expressando coisas que não sentem. É hora de olhar novamente para a perspectiva bíblica que sempre mostrou as falhas e os acertos de todos os homens. Diante de Deus há lugar para expressar amor e ódio, tristeza e alegria, ânimo e desânimo. Somente não há lugar para falta de sinceridade.

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Nunca os conheci

Sou o único ou você também já passou por alguma crise ao ver pessoas sendo usadas por Deus apesar de viver uma vida totalmente incompatível com a Sua Palavra? Um exemplo: certa vez, li sobre pessoas que sentiam algo como a “presença de Deus” em um show do U2, quando eram cantadas músicas como “40” (baseada no Salmo 40). Outro exemplo: pessoas se convertendo em cultos onde o pregador sabidamente está em pecado. Como explicar essas coisas? Ou, ainda, como explicar o derramamento do Espírito Santo em círculos onde se pratica a idolatria a imagens e santos?


Apesar da relatividade que envolve essas questões (como, por exemplo, “o que é sentir a presença de Deus realmente?” ou o jargão mais pragmático das perguntas difíceis evangélicas: “o diabo imita a Deus”), Jesus sabia que coisas assim poderiam acontecer. Mateus 7:22 diz: “ ‘Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então, eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal”. Isso significa que o ministro que profetiza, faz milagres e maravilhas pode ir para o inferno. Jesus deixa claro que os sinais que podem ser operados através da vida de uma pessoa não refletem o que ela vive em sua vida diária, e mais, não asseguram a sua salvação.


O povo evangélico em geral ainda não sabe reconhecer um homem de Deus. O estereótipo do homem “ungido” é o pregador que grita, que supostamente ou realmente realiza milagres, que supostamente ou realmente profetiza. Já tive a oportunidade de conhecer vários “homens de Deus” que se encaixam nesse estereótipo e conhecer pessoas íntimas desses homens. Em sua maioria, são pessoas que não vivem nem um pouco de cristianismo na sua vida diária. Seus gritos camuflam o pecado. Seus milagres escondem a podridão das suas motivações.


Então, o que é ser um homem ou uma mulher de Deus? Quem devemos realmente admirar? O versículo 20 do capítulo em questão de Mateus nos responde claramente: “Pelos seus frutos vocês os reconhecerão”. Jesus quer que seus seguidores tenham discernimento e, para isso, eles devem observar os frutos. Aquele que ama, é humilde, benigno, pacifista, fiel, manso e tem domínio próprio. Um DVD de pregação nunca vai mostrar se o pregador tem ou não essas qualidades. Somente conhecendo o indivíduo em seu andar diário poderemos descobrir. Por isso, gostaria de dar uma dica desde já: antes de admirar aquele pregador ou aquele cantor famoso, admire o pastor ou o homem e a mulher de Deus que você vê todos os dias e manifesta esses frutos citados acima em sua vida. Talvez você não vá encontrar aquele pregador famoso no céu, mas poderá encontrar o irmão da sua igreja que se importa com os pobres, que ama os seus irmãos, mesmo sem saber segurar um microfone.


Mas nesse ponto surge a pergunta: como Deus pode agir por meio desse tipo de gente que não respeita os mandamentos de Cristo, que finge ser algo que não é? Acredito que a resposta para essa e para algumas das perguntas do primeiro parágrafo se encontram na palavra grega kerygma.


Kerygma significa pregação. É a mensagem do evangelho sendo levada a outras pessoas. É o logos, ou seja, o Verbo, aquele pelo qual todas as coisas foram feitas, sendo proclamado. O kerygma, isto é, a pregação da Palavra de Deus tem poder em si mesma, porque quando o Filho de Deus é pregado e anunciado, o poder e a presença do Espírito Santo estão ali testificando a sua veracidade. 1 João 5:8 nos mostra que o Espírito Santo testificaria sobre Jesus na terra, e quando o nome de Jesus é pregado podemos ter a certeza que a Terceira Pessoa da Trindade estará ali glorificando ao Filho, independentemente de quem é o instrumento.


O kerygma reafirma a Soberania de Deus. Segundo o discurso de Jesus, ainda o homem não salvo pode proclamar a Jesus (totalmente consciente disso ou apenas em parte) e o Espírito Santo estará ali testificando no interior dos ouvintes que Jesus Cristo é o Filho de Deus. Que verdade grandiosa! Onde há kerygma, onde houver sendo pregado o nome de Jesus, o Espírito Santo ali estará.


Fica claro que o nível de “cristandade” de uma pessoa não é medida pelo poder demonstrado quando ela prega. O Senhor é totalmente responsável por isso. Não pense que muitas conversões em uma noite de pregação ou em um show de uma banda testificam a favor da vida daqueles que estão sendo instrumentos, apenas está testificando a favor de que Jesus é o Filho de Deus.


Um verdadeiro cristão só pode ser conhecido através de seus frutos. A eloqüência não diz nada. Os gritos não expressam nada. O choro não demonstra nada. Apenas o amor produzido pela obra de Jesus na vida de uma pessoa garante a sua fé e a sua salvação.

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Dez por cento

Como disse desde o começo do blog, este lugar é onde expresso minhas opiniões sobre a Bíblia, o cristianismo e a igreja. Neste post, quero abordar um assunto bastante controverso e dar o meu ponto de vista sobre o mesmo. Meu desejo é que, se alguém discordar de minha opinião ou achar que me desviei dos conceitos bíblicos, ajude-me, respeitosamente, a voltar ao caminho correto. Se, por outro lado, alguém ler e concordar com meus argumentos, que isso gere uma mudança não só em sua visão, mas, também, em sua atitude, com toda moderação e amor.

O assunto deste post é o dízimo. Até hoje, não conheci nenhuma igreja evangélica que não praticasse a tradição de exigir ou solicitar 10% da renda de seus membros como contribuição mensal. Porém, me chama à atenção o fato dessa tradição não estar explícita na vida da igreja primitiva. Paulo, que aborda listas enormes de regras de conduta para a igreja em seus escritos, não menciona em nenhum momento o dízimo. Há apenas duas citações sobre o dízimo no Novo Testamento, que trataremos mais adiante. De fato, a maioria dos pastores (senão a totalidade) utiliza o Antigo Testamento para estabelecer a doutrina do dízimo e para incitar aos membros de sua igreja a trazerem os 10 por cento.

O DÍZIMO E O ANTIGO TESTAMENTO

No Antigo Testamento, abundam os versículos sobre dízimo. Porém, a passagem mais utilizada é, sem dúvida, Malaquias 3:10. Ali encontramos não só um desafio divino para que o dízimo seja trazido à casa de Deus, mas uma promessa de prosperidade. O versículo anterior mostra que, por não entregar o dízimo, os israelitas estavam sob uma grande maldição (tradução NVI). Acredito que não sou o único que já ouviu muitos pastores atemorizando seus membros com a palavra “maldição” concernente a não entrega do dízimo.

O texto de Malaquias é realmente muito claro. A pergunta é: esse texto é suficiente para fundamentar a doutrina da prática do dízimo? Na minha opinião, não. O capítulo 1 de Malaquias adverte sobre o sacrifício de animais que não são perfeitos. Os pastores não pregam sobre esse texto por ser claro e óbvio que o sacrifício animal não é necessário depois de Jesus. O livro todo é, claramente, uma advertência sobre questões cerimoniais e relativas à nação de Israel. Interpretá-lo e aplicá-lo na igreja hoje de maneira literal seria um erro. Para sermos coerentes então, devemos dar o dízimo e sacrificar animais íntegros.

Sobre o fato da maldição de não entregar o dízimo, o apóstolo Paulo nos responde claramente em Gálatas 3:13: “Cristo nos resgatou da maldição da Lei”. Em minha concepção, uma pessoa de fato convertida não pode estar debaixo de maldição alguma, seja ela por dízimos, hereditária ou o que for. Se o sacrifício de Jesus não quebra todo o jugo de maldição, não temos esperança de que qualquer outra coisa no mundo poderá quebrá-lo.

Seguindo em minha opinião, o dízimo pertence às leis cerimoniais (ou talvez às civis), as quais qualquer um concorda que foram abolidas com a morte e ressurreição de Jesus. Levítico 27:30 traz a ordenança do dízimo na Lei. O versículo anterior diz: “Nenhuma pessoa consagrada para a destruição poderá ser resgatada”. O que eu quero dizer é isto: ou utilizamos toda a lei cerimonial da Bíblia, ou abolimos toda ela. Escolher o que vamos ou não seguir é extremamente ilógico.

O propósito do dízimo era o sustento da casa de Levi, que não tinha herança entre as tribos de Israel (Números 18:24). Era um “imposto” que o povo de Israel pagava para manter o seu sistema religioso (já que em Israel o religioso e o civil mantinham uma profunda ligação, a ponto de se confundirem um com o outro). O mesmo acontecia na Idade Média entre a Igreja Católica e o Império Romano. Foi fixado o imposto secular do dízimo para o sustento da Igreja, fato que influencia as igrejas, reformadas ou não, até hoje.

O DÍZIMO ANTES DA LEI E NO NOVO TESTAMENTO

Já ouvi alguns argumentos sobre o fato de o dízimo já ser praticado antes da Lei, o que daria validez à sua doutrina. O argumento até parece forte, contudo, devemos nos lembrar que os sacrifícios também eram praticados antes da Lei.

Em Gênesis, encontramos Abraão dando o dízimo a Melquisedeque, que mais tarde foi utilizado pelo escritor de Hebreus representando uma tipologia de Jesus. Minha compreensão dos versículos 4 a 10, do capítulo 7, de Hebreus de que o escritor tem a intenção de mostrar que, através da entrega de seu dízimo, Abraão reconheceu a Melquisedeque como sacerdote. A ênfase aqui é que o sacerdócio de Cristo foi reconhecido por Abraão e deve ser reconhecido, portanto, pelos judeus. Não consigo encontrar nenhuma referência onde a prática do dízimo deva seguir sendo praticada. Aliás, a impressão que o texto passa no versículo cinco é que a prática dizimista pertence ao passado.

Em Mateus 23:23, encontramos a única referência que Jesus faz ao dízimo: "Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês dão o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas têm negligenciado os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Vocês devem praticar estas coisas, sem omitir aquelas”. Parece-me óbvio que Jesus está falando sobre o cumprimento da Lei. Os fariseus se preocupavam com as coisas pequenas da Lei e se esqueciam do que era realmente importante. Se os discípulos tivessem entendido essa frase de Jesus como uma instituição do dízimo, isso se refletiria na igreja primitiva e, certamente, estaria presente nas cartas de Paulo e no livro de Atos.

A VISÃO CRISTÃ DO DINHEIRO

A concepção que Jesus tinha do dinheiro e das riquezas parece esquecida hoje em dia. Quando Jesus cita as riquezas, quase sempre está relacionada com os pobres. Jesus, não poucas vezes, incitou seus seguidores a venderem tudo e dar seu dinheiro aos pobres. O Mestre sempre aponta para um tesouro no céu. Mais adiante, em Atos encontramos a Barnabé vendendo um terreno e dando todo o dinheiro para ser distribuído entre os membros da igreja, e não dez por cento do dinheiro.

Essa é a concepção de Jesus, uma visão holística. A vida do cristão deve ser inteiramente dEle, portanto, também suas riquezas. A doutrina do dízimo tem enganado a muitos que pensam que estão “justificados” diante Deus dando 10% ao mês para a igreja, e, assim, fugindo de uma maldição. É a velha história do “bicho-papão”. Se tudo o que temos não estiver disponível para a obra de Deus, então não podemos ser chamados realmente de cristãos.

A melhor ilustração da visão de Jesus sobre a contribuição talvez seja a da viúva que deu apenas duas moedas de cobre (Marcos 12:42). Jesus enfatiza que o que menos importa é a quantidade, a porcentagem ou o que seja, mas o coração do doador.

Acho interessante, porém, o cristão determinar uma porcentagem mensal de sua renda para a igreja. Se 5 ou 50 por cento, não importa. O mais importante é que dentro de seu coração deve estar a certeza de que o Senhor cuida de todas as suas necessidades e que todo os seus bens devem estar à disposição do Senhor.

Também seria interessante propor uma quantia mensal da renda do cristão para a ajuda aos pobres. Apenas um quilo de alimento não-perecível por mês não parece estar muito perto do que Jesus sugeriu.

Gostaria de concluir dizendo que não sou pastor e não tenho ideia da dificuldade e da grandeza de administrar uma igreja. Contudo, a obra é de Deus e Ele é o maior interessado em sustentá-la e fazê-la crescer, sempre e quando esteja sendo pregada a verdade.

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Quanto devemos?

A parábola do credor incompassivo é bastante conhecida, porém, às vezes temos a tendência de interpretar as parábolas de uma maneira superficial, perdendo alguns detalhes valiosos que o texto nos ensina. Estudando esse texto junto com um grupo de estudo bíblico percebi alguns detalhes que me chamaram a atenção e uma alarmante revelação que o texto trás.

Tudo começou com a pergunta de Pedro: “quantas vezes devo perdoar a meu irmão?” A parábola faz uma comparação com o perdão que recebemos de Deus. Já que recebemos um abundante e incalculável perdão divino, não devemos contabilizar a medida que perdoamos a um irmão nosso.

A conta perdoada pelo rei da parábola é de 10.000 talentos. Isso equivale ao salário de sessenta milhões de dias trabalhados, ou seja, quase 165.000 anos de trabalho. Obviamente, é um valor impagável. O credor, porém, implora para que o rei tenha paciência porque ele ainda o pagará.

Esse é o primeiro ponto importante da parábola. O credor não parecia ter real noção da sua dívida. Ele se iludia com a ideia de que iria pagá-la. Parece insana a afirmação do credor de que pagaria uma dívida tão alta. Estaria ele surdo? Seria ele louco? Não conhecia as equações matemáticas? O mais incrível é que o absurdo se repete. Crentes e descrentes ignoram a sua dívida, apesar de a escutarem diariamente pela lei pronunciada por Deus na Bíblia, ou da lei gravada em seu coração que acusa uma dívida impagável. Cada vez que a lei sussurra o tamanho da sua dívida em sua consciência, a resposta do seu íntimo é: “Senhor, tem paciência comigo, que tudo te pagarei”.

Nossa vida cristã não será vivida na sua plenitude se não tivermos consciência plena de nossa dívida. Reconhecer o tamanho dela nos deixa nas mãos da graça. Já não nos cobrimos de justiça própria tentando ganhar o favor de Deus, porque sabemos que nada do que fizermos vai pagar a nossa dívida, a não ser a iniciativa da benevolente graça divina.

A parábola segue com o perdão da dívida do credor pelo rei movido de misericórdia. Logo que sai da presença do rei, o credor encontra um conservo (diante do rei ambos ocupavam a mesma posição) que lhe devia cem denários. Essa quantia equivale ao salário de 3 meses e meio de trabalho, aproximadamente. Uma dívida totalmente pagável. Porém, a atitude daquele que recém havia sido perdoado é bem diferente daquele que o perdoou. Ele não ouve o pedido de seu credor e o lança na prisão, até que o pague toda sua dívida.

Tentei imaginar o que teria levado o credor, recém perdoado, cobrar tão veemente uma dívida tão leve. Pode ser que apenas tenha sido movido por ganância, mas parece mais racionável pensar que tal credor, em sua necessidade, ainda mantinha a ideia de pagar sua dívida com o rei. Seu orgulho não permitiu que ele aceitasse o perdão.

Obviamente, o personagem do credor incompassivo reflete a sociedade religiosa judaica contemporânea de Jesus, mas, também, reflete a nossa atitude por muitas vezes. Esse é o segundo ponto a ressaltar dessa parábola. Se não aceitamos o perdão de Deus da nossa dívida, não teremos a capacidade de perdoar o nosso irmão. Essa verdade é provada pela experiência da igreja. Pessoas que baseiam sua conduta em sua justiça própria impõem um peso antinatural aos seus irmãos na fé. Isso reflete um interior que não compreendeu o perdão abundante de Deus.

Uma vida cristã saudável deve seguir estes princípios: 1) Compreender o tamanho da dívida que tínhamos com Deus e reconhecer nossa impossibilidade de pagá-la; 2) Aceitar o perdão e a graça de Deus em nos perdoar simples e unicamente por sua misericórdia, sem merecimento algum nosso. Se incorporarmos pela fé esses dois pontos em nossa reflexão cristã individual, não teremos nenhuma dificuldade em perdoar nossos irmãos, seja qual for a dívida ou ofensa que eles tenham contra nós. Assim, viveremos uma vida liberta da justiça própria e da tentativa frustrada de alcançar o favor de Deus através de nossos próprios esforços.

Por último, encontramos nessa parábola uma declaração alarmante feita por Jesus:

Irado, seu senhor entregou-o aos torturadores, até que pagasse tudo o que devia. "Assim também lhes fará meu Pai celestial, se cada um de vocês não perdoar de coração a seu irmão".

Jesus aponta o perdão num conceito mais alto do que o pregado pelas igrejas hoje. Ele passa a ser um condicionante para a salvação. Se deixarmos de perdoar alguém, não podemos ter certeza da salvação. Provavelmente, muitos “cristãos” ficarão surpresos no dia do julgamento ao escutar o veredito divino. Talvez, porque quem se diz cristão, porém não perdoa verdadeiramente a seu irmão, nunca conheceu o tamanho de sua dívida com Deus e o preço do perdão que Jesus pagou por nós.

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O Sexto Sentido


“Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que não se vêem.” Hebreus 11:1

Nos posts anteriores, falei um pouco sobre o neoateísmo, a ciência e a aparência de intelectualismo que o ateísmo traz consigo. Essa aparência é formada pelo uso da razão como guia para o ateu entender o mundo. Segundo o ateísmo, o conhecimento só é possível através da razão e se algo não é percebido pela razão, logo, não pode ser real. Acreditar no palpável, no visível e no tangível parece ser uma atitude muito mais inteligente do que acreditar em algo que não pode ter sua existência ou realidade comprovada. Realmente, acreditar em Papai Noel não se demonstra uma atitude inteligente. Acreditar em Deus segue a mesma perspectiva? Ter fé é para ignorantes? Acreditar em algo que não pode ser provado é ingenuidade?

Ter fé pode até parecer ingenuidade nos dias atuais. Como já disse, em sua maioria, a multidão de ateus é formada por indivíduos que, fazendo um balanço superficial, adotam o ateísmo como a crença mais lógica; outros baseiam suas convicções em argumentos científicos e poucos são os que fundamentam suas crenças ateístas em raciocínios filosóficos. Com isso me refiro à maioria, sem intenção de generalizar. Creio que a filosofia dá ótimas contribuições para crer que o teísmo é verdadeiro e mostrar que a fé não é tão absurda assim.

Desde o início da modernidade, dois movimentos filosóficos opostos tentaram explicar a fonte do conhecimento, a saber, o Racionalismo e o Empirismo. A filosofia de Immanuel Kant partiu dessas duas fontes. Kant, porém, rompeu com as duas em seu famoso livro “Crítica da Razão Pura”. Nesse livro, Kant sugere uma nova teoria sobre a fonte do conhecimento.

O que nos interessa neste ínterim são as teorias de Kant relacionadas ao conhecimento metafísico (ou seja, o conhecimento além do natural, do físico). O filósofo prussiano chegou à conclusão que não podemos conhecer o “fundo” das coisas. Apenas conhecemos o mundo através da ótica do tempo e do espaço. A teoria kantiana é bastante complexa, porém, o importante aqui é entender a conclusão do filósofo de que não podemos chegar ao conhecimento das coisas em si, apenas dos fenômenos.

Apesar de Kant ter balançado a estrutura de toda a metafísica que levava ao conhecimento filosófico de Deus, também colocou a razão em seu lugar, mostrando que a fé não é ignorante. Se aceitarmos a teoria kantiana, a qual é bastante fundamentada, aceitamos que é impossível ao homem o conhecimento do real apenas pelos seus cinco sentidos. E acredito que a fé é o sexto sentido: é a percepção de coisas reais que não estão ao alcance de nenhum dos nossos cinco sentidos.

Vemos, a partir dessa compreensão, que a fé não é ignorante e nem oposta à razão. A fé não é irracional, é suprarracional.

Esse entendimento da fé anda de mãos dadas com a autorrevelação divina, já que não adianta apenas ter fé, mas é preciso saber no que cremos. O escritor C. S. Lewis afirmou que “quando se trata de conhecer a Deus, toda a iniciativa depende dEle. Se Ele não se quiser revelar, nada do que façamos nos permitirá encontrá-lo”. O cristianismo afirma que somos seres criados e pelo uso de nosso livre-arbítrio, estamos separados de Deus. A única maneira, então, de um ser inferior e criado conhecer o seu criador é pela própria iniciativa desse ser soberano.

O quebra-cabeça se fecha quando cremos que a Bíblia é a autorrevelação do Criador. Ou seja, Deus nos revelou o que está além dos nossos cinco sentidos e nós, pela fé, acreditamos nessa realidade superior a nossas capacidades.

Essa compreensão de fé traz consequências para nossa vida diária. Podemos crer em todas as promessas que a Bíblia nos traz. Deus nos revelou o mundo que está além do que podemos ver ou sentir. Revelou nossa identidade de filhos dEle, apesar de nossos cinco sentidos dizerem coisas horríveis a nosso respeito. Revelou nossa riqueza nEle, apesar de nossos cinco sentidos somente verem pobreza. Revelou nosso futuro glorioso na eternidade com Ele, enquanto nossos cinco sentidos somente vêem um mundo físico sem perspectiva.

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Batismo e Santa Ceia

Você já se perguntou o que fez com que a igreja se tornasse tão diferente hoje do que era nos seus primórdios? Por que as igrejas neotestamentárias pareciam ser tão simples e funcionar tão bem em contraste com as de agora, que têm uma organização tão complexa e funcionam tão mal (em alguns casos)? Ou ainda, por que a Igreja Católica (que historicamente é a “continuidade” da igreja apostólica) parece tão desviada dos princípios bíblicos elementares?

Esses questionamentos demandam uma infinidade de respostas, porém, uma delas me chamou a atenção, por ser uma má interpretação, que causou danos incalculáveis à Igreja. Essa interpretação desviada das normas do Novo Testamento se chama sacramentalismo.

Jesus deixou duas ordenanças simbólicas no Novo Testamento, o Batismo e a Santa Ceia, ou Ceia do Senhor. Mais tarde, a igreja passou a chamar essas duas ordenanças de sacramento. A etimologia remete ao latim sacramentum, que em seu uso popular era o juramento de lealdade que o soldado romano realizava ao exército. A palavra grega que corresponde a sacramentum é mystêrion, a qual significa “o que está fora da compreensão natural”. De qualquer maneira, é importante ressaltar que essa terminologia, ou seja, esse título para as duas ordenanças de Jesus, não é bíblica, apesar de nos ajudar a compreender o entendimento que os líderes da igreja dos séculos pós-apostólicos tiveram dos sacramentos.

A igreja, logo cedo em sua história, começou a acreditar que a água do batismo tinha um poder misterioso para operar a salvação. Já no início do segundo século depois de Cristo, Justino Mártir declarou que o batismo completava a salvação. Ao fim do mesmo século, há algumas evidências de que se começou a praticar o batismo de crianças. No mesmo período, Ignácio (um dos Pais da Igreja) declarou que o pão e o vinho eram “remédios da imortalidade”. Os dois sacramentos começaram a tomar um lugar que Jesus e os apóstolos nunca haviam proposto.

Tendo os sacramentos esse lugar de honra, não era qualquer indivíduo que poderia administrá-los. Somente os bispos poderiam realizar esses ritos e com as palavras corretas, sem poder equivocar-se em nenhuma delas, para que o rito não perdesse sua validade. Tudo isso foi, muito provavelmente, influência da magia pagã se incorporando à Igreja através da multidão de crentes ex-pagãos que não abandonavam completamente suas práticas ou não compreendiam completamente a fé cristã. Então, os bispos começaram a ocupar um lugar mais alto do que aqueles ministros que serviam na Igreja do primeiro século.

Os sacramentos passaram a ser indispensáveis para a salvação. Somente os bispos poderiam administrá-los. A conseqüência disso tudo foi que a igreja passou a ser detentora da salvação. Ninguém era salvo se não pertencesse à Igreja.

O batismo e a Santa Ceia causam discórdias e diferenças doutrinárias até hoje. O que é o batismo? O batismo de crianças é correto? Deve ser por imersão ou pode ser feito por aspersão? E sobre a Santa Ceia, qual será a visão correta: transubstanciação, consubstanciação, presença mística ou simbolismo? (Sugiro que você procure no Google sobre cada uma das formas de interpretar a Ceia do Senhor).

Gostaria de falar sobre minha visão sobre esses dois sacramentos. Trata-se de uma opinião a mais que está longe de ser uma tese definitiva, até porque sei das variáveis teológicas que influenciam essas visões. Será somente mais uma de minhas teorias. Fique com o que é bom, rejeite o que não for proveitoso.

Paulo, em diversos textos, faz analogias do relacionamento de Cristo com a Igreja comparando-o com o relacionamento entre marido e esposa. Assim é em Efésios 5:31-32, onde, por coincidência, encontra-se a palavra grega mystêrion. Gostaria também de propor uma analogia parecida.

O batismo é a cerimônia de casamento entre o homem e Cristo.

A cerimônia não é o casamento em si, é apenas a demonstração pública do mesmo. Na prática cristã, o casamento é um relacionamento contínuo entre um homem e uma mulher, gerado e mantido pelo amor e pela vontade mútua. Os dois tornam-se então uma só carne. O nosso relacionamento com Cristo também é contínuo, iniciado e mantido pela fé nEle. Somos um só espírito com ele a partir do momento em que cremos. Marcos 16:16 diz: “Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado”. Fica claro que o condicionante para a salvação é crer, e não o batismo. Do contrário diria: “quem não crer ou quem crer e não for batizado será condenado”. O batismo é a demonstração simbólica de um “sim” que já ocorreu interiormente pela fé.

Quando nos casamos com Cristo através da fé e o demonstramos publicamente através do batismo, compartilhamos com ele tudo o que temos e ele compartilha conosco tudo o que ele possui. Ou seja, nossos pecados passam a ser de Jesus e todas as bênçãos conquistadas na cruz passam a ser nossas. Assim opera a salvação. Que maravilha!

O batismo então, em minha visão, é simbólico. Assim como o beijo da cerimônia simboliza o amor e a decisão de duas pessoas de se casarem, a imersão simboliza a nova vida que temos em Cristo. É essencial para todo que, crendo, tem oportunidade de fazê-lo; porém, não é condicionante a ponto daquele que crê no leito de morte perder sua salvação.

Assim como na cerimônia de casamento há um consenso entre duas pessoas, também é no tocante à salvação e ao batismo. Primeiro há amor entre duas pessoas que decidem casar-se, para depois, exporem sua decisão em uma cerimônia pública. Da mesma maneira, primeiro é necessária a fé em Jesus para depois haver o batismo, como demonstração dessa decisão. Romper essa ordem seria sem sentido.

A santa ceia é o símbolo da aliança que fizemos com Deus.

Do mesmo modo que as pessoas casadas sustentam uma aliança durante toda a sua vida, demonstrando publicamente que estão casadas, assim a Santa Ceia é a demonstração da nossa contínua relação com Cristo. Diz respeito a uma decisão que tomamos e que seguimos caminhando nela.

Paulo nos mostra em 1 Coríntios que o participar da Ceia indignamente traz fatais consequências para a vida do participante. Isto porque ele estaria demonstrando uma mentira: declarando publicamente sua fé em Jesus, porém vivendo de maneira contrária a essa aliança. É um adúltero que sustenta orgulhosamente uma aliança em seu dedo. Parece-me não haver necessidade de crer em algum elemento mágico, ou transformação milagrosa da substância do pão e do vinho.

O fato de não haver nenhuma presença mágica diminui a importância destes sacramentos? De forma alguma. A intensidade e a profundidade do simbolismo demandam respeito e reverência de cada participante dos sacramentos. Todo esse simbolismo deve despertar em nós a mais profunda devoção e gratidão pelos fatos que eles representam. O fato de ser apenas simbolismo não faz dos sacramentos menos sagrados, devido aos acontecimentos que eles estão representando. Não há nada mágico que os possa fazer mais sagrados.

Que o nosso casamento com Cristo seja eterno. Que nunca busquemos o divórcio da aliança que fizemos com ele.

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Religião x Ciencia


O texto a seguir é traduzido e adaptado do livro de Dinesh D'Souza "What's So Great About Christianity". Boa leitura.


HISTÓRIA DO CONFLITO


O ateísmo proclama que a ciência e a religião são adversárias. Diversas vezes vemos artigos em jornais e revistas com o título Ciência x Religião, ou Ciência versus Deus.

Os ateus, porém, ignoram muitas vezes que a ciência moderna surgiu e se desenvolveu dentro do cristianismo medieval europeu e que alguns dos avanços mais significativos da ciência se devem ao trabalho de cristãos.

Agostinho de Hipona (ou Santo Agostinho como é conhecido), por exemplo, no século IV depois de Cristo, criou uma teoria com bases teológicas de que Deus havia criado o tempo junto com o universo, ou seja, que antes do universo não havia tempo. Deus obviamente está fora do tempo, por isso que dizemos que Deus é eterno. O que Agostinho alcançou somente através da razão, a física moderna e a astronomia confirmaram muitos séculos depois.

A razão sempre foi parte operante do cristianismo. Ao contrário do islamismo e do judaísmo, que são religiões de lei, o cristianismo é uma religião aberta ao pensamento e a reflexão sobre Deus e sua relação com o homem. O cristianismo não é e nunca se opôs a razão. Ao contrário, o cristão crê que Deus concedeu a razão ao homem. O antagonismo entre fé e razão, ciência e religião é um produto moderno sem fundamento.

A fundação das universidades ocorreu na era medieval na Europa. Elas tiveram um papel crucial no desenvolvimento da ciência moderna. Antes disso eram os monastérios que cuidavam da preservação e transmissão do conhecimento antigo que havia se perdido com as invasões bárbaras a Roma. A partir daí as igrejas começaram a fundar escolas, primeiramente a nível primário e depois secundário. Estas se tornaram cada vez mais avançadas até que, no séc. XII, foram fundadas as primeiras universidades em Bolonha e Paris.

O método científico, que é a base de estudo da ciência até hoje, foi criado por Francis Bacon, um devoto religioso que escreveu comentários também sobre os Salmos e a oração. Bacon dizia que através do poder divino do descobrimento, o homem poderia cumprir a ordem divina de estabelecer domínio sobre a criação e até restaurar uma nova classe de Éden. O método científico revolucionou a ciência e gerou uma explosão de inovações e invenções que começaram no séc. XIII. Nessa época foram inventados a roda hidráulica, o moinho de vento, o chaminé, os óculos e o relógio mecânico.

A igreja também patrocinou a construção e a manutenção das primeiras instituições de investigação médica e os primeiros observatórios. Os primeiros cientistas profissionais são encontrados aos fins da Idade Média e, em sua grande maioria, eram cristãos que viam seu trabalho como o cumprimento de objetivos cristãos. Alguns famosos cientistas cristãos são: Copérnico, Kepler, Galileu, Descartes, Boyle, Newton, Leibniz, Pascal, Harvey, Lavoisier, Ampere, Pasteur, Maxwell, Mendel.

Georges Lemaitre, o astrônomo belga que propôs pela primeira vez a teoria do Big Bang para a origem do universo também era cristão. Kepler, criador da teoria de que os planetas giravam em torno do sol de maneira elíptica e não circular, escreve a Deus ao fim do livro “A harmonia do mundo”: “por favor, faça com que essas demonstrações levem a tua glória e a salvação de almas”.

Apesar de o cristianismo estar tão presente na origem e no desenvolvimento da ciência, a fama da guerra “ciência contra religião” tem sua força na perseguição que a Igreja impôs a cientistas como Copérnico e Galileu, que afirmavam que a terra girava ao redor do sol. Muitas informações, porém, são de propagandas mentirosas anti-religiosas provenientes do séc. XIX. É certo que houve perseguições, mas muito menos do que a tradição científica prega. De qualquer forma, a Igreja corrompida da Idade Média se faz culpada dessas acusações.

A CIÊNCIA E A BÍBLIA

O Big Bang

As descobertas científicas recentes mostram que o universo foi criado em uma explosão primordial de luz e energia. Nesse momento o universo teve começo, assim como o tempo e o espaço. Gênesis 1:3 nos mostra que Deus criou primeiramente a luz. Há uma clara confirmação científica para um dado bíblico. Isso também nos explica porque a luz foi criada antes do sol, no relato da criação.

A segunda lei da termodinâmica declara que as coisas, deixadas sozinhas, se descompõem. Esta lei tem aplicações alarmantes. Por exemplo, a medida que o tempo passa as reservas de combustível do sol vão decaindo, o que significa que um dia se acabará o calor do sol. Mas isso também significa que em algum momento o sol foi aceso, ou seja, criado. O mesmo ocorre com todas as estrelas. Assim é com todo o universo.

Outro dado importante que indica um começo e um criador para o universo é o fato comprovado de que o universo está em expansão e de que as galáxias estão se afastando. Isso indica que no passado elas estiveram mais perto umas das outras. Tudo indica que todas tiveram um ponto de origem comum a mais ou menos quinze milhões de anos atrás.

Todos estes fatos indicam a um evento de criação do universo a 15 milhões de anos atrás. Alguns poucos cientistas, não podendo explicar a origem do universo e recusando-se a aceitar ao Criador tem proposto teorias de que o universo é eterno ou mirabolantes teorias de universos paralelos. Obviamente não tem nenhuma evidência a seu favor.

É importante fazer um parêntese e deixar claro que a palavra hebraica para dias no relato da criação do Gênesis pode significar dias, estações ou épocas. Não há dificuldade nenhuma para o cristão aceitar um relato da criação que se estenda por milhões de anos.

A filosofia nos mostra que tudo que tem um começo, tem uma causa. Ou seja, tudo que veio a existir depende de algo que o gera. Qual seria a causa do Big Bang, ou do universo? Em seu sentido literal, a grande explosão que criou o universo foi um milagre. Qual a causa deste milagre? A única resposta cabível é que a causa é algo que esteja fora do universo e fora do tempo e seja poderoso o suficiente para criar algo. Enquanto os cientistas buscam uma resposta para a causa do Big Bang, os cristãos têm certeza da sua origem em Deus.

UM MUNDO CRIADO ESPECIFICAMENTE PARA NÓS

Uma grande questão que ronda a mente de muitos seres humanos é o fato de que se o homem é tão importante e tão central para o propósito de Deus, porque vivemos num pedacinho pequeno de terra em um universo tão grande e indiferente? A ciência tem nos dado essa resposta provando que o tamanho e a idade do nosso universo não são acidentais, mas são condições indispensáveis para a existência da vida na terra. O universo parece ser uma conspiração para que nós existamos. Se algumas leis fossem mudadas em alguns décimos somente, a existência de vida seria impossível.



A TEORIA DA EVOLUÇÃO

A melhor explicação acredito que se encontra neste vídeo de William Lane Craig. Abaixo compartilho algumas informações do livro de Dinesh D'Souza.



A evolução também não pode explicar o começo da vida. Darwin nem mesmo tentou fazê-lo. Assumiu a primeira coisa viva e tratou de explicar como uma criatura pôde transformar-se em outra. A origem da vida é um dos mistérios não resolvidos pela ciência.

A evolução falha em explicar a consciência. Como a vida inconsciente se transformou em consciente? Também não explica o sentido moral que o homem possui. Como explicar o fato do homem saber o que deve fazer (ainda que não o faça)? Não há explicação científica para o fato de o homem atuar em contra de seus interesses evidentes.

O cristão não deve se assustar com a evolução. Ela é apenas uma teoria mais sobre como Deus realizou a criação. Se houve evolução realmente, Deus foi quem deu início e supervisionou todo o processo.

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Os novos ateus e o fim dos tempos


“Não deixem que ninguém os engane de modo algum. Antes daquele dia virá a apostasia e, então, será revelado o homem do pecado, o filho da perdição. Este se opõe e se exalta acima de tudo o que se chama Deus ou é objeto de adoração.” “A vinda desse perverso é segundo a ação de Satanás, com todo o poder, com sinais e maravilhas enganadoras.”
(2 Tessalonicenses 2:3-4 e 9)


Uma área de estudo que nunca me atraiu muito no que se refere ao estudo bíblico é a escatologia, ou seja, o estudo dos últimos dias. Sinceramente, fico um pouco irritado lendo tantas simbologias sem entender nada. Com certeza, essa dificuldade de entendimento é agravada pela falta de conhecimento do gênero literário e do contexto, mas, ainda assim, os relatos dos acontecimentos finais no Apocalipse, Zacarias e Daniel não me atraem muito.

Essa situação muda quando encontro alguma luz que resplandece sobre alguma passagem, fazendo-a parecer mais clara, ou quando algum texto parece fazer mais sentido à luz dos acontecimentos do mundo contemporâneo. E assim foi com esses dois versículos citados no começo do texto.

É importante, antes de discorrer sobre esses versículos, aclarar que toda interpretação em escatologia não passa de teoria. A única maneira para que sejam plenamente aceitas é quando se tornam fato, ou seja, quando realmente aconteçam. Acredito que todos nós que crescemos com interpretações aceitas como definitivas - como o arrebatamento, o milênio, a pessoa do anticristo – teremos grandes surpresas quando a escatologia passe de mera simbologia profética a eventos reais.

Passo agora a minha teoria (minha esposa sabe que eu tenho uma teoria para quase tudo).

Neste último ano, estive me dedicando mais do que nunca ao estudo da apologética, e nesse caminho me encontrei com as idéias do novo ateísmo – movimento moderno que se dedica a enaltecer o ateísmo e atacar a religião. Este movimento, que tem como maiores expoentes o biólogo Richard Dawkins, o escritor Critopher Hitchens, o filósofo Daniel Dennett, entre outros, tem se mostrado bastante violento em suas declarações. Seus livros como “Deus, um Delírio”, de Dawkins, e “God Is Not Great” (Deus não é bom), de Hitchens, revelam um ataque aberto a toda forma de religião. Obviamente, seu maior alvo de ataques é o cristianismo, provavelmente pela proeminência dessa religião e por esses ateus viverem em países tradicionalmente cristão-protestantes.

Minha intenção não é ir contra nenhuma das ideias destes ateus. Talvez em outra oportunidade. Mas, como em um déjà vu profético, vejo em suas ideias o cumprimento dos fatos futuros advertidos por Paulo aos tessalonicenses. Esses homens são proeminentes em suas áreas de atuação, isso é inegável, apesar de levantarem argumentos muitas vezes sem base filosófica ou teológica nenhuma (principalmente Richard Dawkins). Porém, seu discurso traz consigo uma aura de soberba e uma fantasia de intelectualismo. Isso faz com que ser ateu pareça sinônimo de ser intelectual ou inteligente. Ser ateu passou a ser cool, fato que é comprovado em muitos círculos universitários, principalmente.

Serão eles então o anticristo? De maneira nenhuma. Mas creio que, da mesma maneira com que João Batista preparou o coração dos israelitas para a chegada do Messias, o novo ateísmo tem preparado a mente das pessoas a uma rejeição da religiosidade e dirigido a sociedade ao secularismo total.

Em minha teoria o anticristo não será um homem milagroso como era Jesus. Creio que seus “sinais e maravilhas”, como se refere Paulo no versículo 9, serão algo semelhante a descobrimentos e experimentos científicos destinados a afastar ainda mais a sociedade da ideia de um criador e sustentador da terra. Esse novo ateísmo trabalha para afastar a ciência da religião, dando a falsa impressão de que as duas são excludentes entre si.

Suas teorias querem mostrar que a religião é o maior atrapalho ao progresso da sociedade. Somente sua extinção total levaria o homem a um nível mais elevado socialmente e individualmente.

John Lennon parece aportar a essa cosmovisão ateísta em sua famosa composição "Imagine Me":

Imagine que não há paraíso É fácil se você tentar Nenhum inferno abaixo de nós Acima de nós apenas o céu Imagine todas as pessoas Vivendo para o hoje Imagine não existir países Não é difícil de fazê-lo Nada pelo que lutar ou morrer E nenhuma religião também Imagine todas as pessoas Vivendo a vida em paz


Seguindo com minha teoria, creio que o novo ateísmo será o maior inimigo da igreja neste próximo século, assim como o legalismo judeu foi o inimigo do início da fé cristã, seguido pelo gnosticismo do primeiro século enfrentado pelos Pais da Igreja. A diferença é que vivemos em uma igreja despreparada em comparação àquela do século primeiro. Parece-me ser tempo da igreja investir na preparação teológica dos seus líderes, na convicção da fé de cada um dos cristãos que frequentam nossas igrejas e da união contra esse mal que nos sobrevêm.

Encerro com a pergunta de Jesus em Lucas, capítulo 18, versículo 8: “Contudo, quando o Filho do homem vier, encontrará fé na terra?” Creio que quando o Deus Onisciente questiona algo não espera uma resposta. Talvez espere reflexão e ação.

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Dependência

Todos conhecem a história. José foi vendido por seus irmãos e acabou sendo escravo na casa de um homem da alta sociedade egípcia. Por uma sucessão miraculosa de fatos terminou sendo o governador do Egito, o segundo homem mais importante do império, estando apenas subordinado ao Faraó. O filho de Jacó então perdoa a seus irmãos e, por causa de uma época de seca e fome, toda sua família é transladada à melhor porção de terra do Egito: a terra de Gósen.


Essa terra é conhecida como "Delta do Nilo", localizada no extremo norte do Egito. É o local onde o rio mais largo do mundo se divide, tomando a forma de um "triângulo de águas". O Egito, localizado em meio a um árido deserto, tem escassas áreas férteis, sendo elas as margens do rio, que são beneficiadas pelas suas cheias e a terra de Gósen, que é um triângulo de terra extremamente fértil, dado a quantidade de água que o envolve. (Para perceber de maneira mais clara esse dado, procure no Google Earth por "Egito" e observe o triângulo com densa vegetação bem ao norte.)


Seguindo a história. Após algum tempo, a família de José se tornou muito numerosa. O novo Faraó não havia conhecido a José, já falecido. Conhecia apenas aquele povo que se dizia descendente deste que fora o governador egípcio. Tão numeroso eram seus descententes que se transformaram em uma iminente ameça. O faraó chegou então a conclusão de que este povo deveria ser subjugado e escravizado, para estar sob controle.


Deus então escuta o sofrimento do povo hebreu e decide tirá-los do Egito. Pois bem, surge uma pergunta. Se Deus teria que agir de uma maneira milagrosa como nunca antes desde a criação, porque não fazer com que o povo de Israel dominasse aos egípcios e vivesse na sua terra. Ou seja, porque Israel não se tornou líder do Egito, escravizando aos egípcios? Por que teria que haver um deslocamento do povo de Israel a outra terra, se a terra do Egito era tão próspera?


As respostas são muitas: a promessa de Deus a Abraão de que a terra de Canaã seria possessão de sua descendência, o simbolismo da saída do Egito com a salvação em Jesus, etc. Mas então por que Deus escolheu Canaã? Se o Egito prosperava e era fértil, por que não ser essa a Terra Prometida?
Canaã era uma terra montanhosa que continha apenas um pequeno rio chamado Jordão, que não tinha muita serventia.


Há uma característica muito interessante sobre a terra de Canaã e que, acredito eu, Deus tinha em mente quando prometeu esta terra à descendência de Abraão. No Egito todo o sustento se baseava no Nilo. Sem o Nilo o Egito não existiria. Mas por sorte, um rio do porte do Nilo tem pouquíssimas probabilidades de chegar a secar em algum momento ou não poder prover água por algum motivo. Havia segurança para os egípcios de que seu sustento estaria sempre presente por causa de um rio.
Na terra de Canaã era diferente. A terra montanhosa não tinha como ser irrigada por nenhum rio. E o rio mais importante da terra possuída pelos judeus era o Jordão, com uma profundidade média de um a três metros apenas e largura de no máximo trinta metros. Parecia uma poça d'água comparado ao vultoso Nilo.


Para sobreviverem os judeus dependiam da chuva. Deus fala no livro de Deuteronômio, capítulo 11:


"Porque a terra que passas a possuir não é como a terra do Egito, de onde saíste, em que semeavas a tua semente, e a regavas com o teu pé, como a uma horta. Mas a terra que passais a possuir é terra de montes e de vales; da chuva dos céus beberá as águas; Terra de que o SENHOR teu Deus tem cuidado; os olhos do SENHOR teu Deus estão sobre ela continuamente, desde o princípio até ao fim do ano. E será que, se diligentemente obedecerdes a meus mandamentos que hoje vos ordeno, de amar ao SENHOR vosso Deus, e de o servir de todo o vosso coração e de toda a vossa alma, Então darei a chuva da vossa terra a seu tempo, a temporã e a serôdia, para que recolhais o vosso grão, e o vosso mosto e o vosso azeite."


Na terra do Egito os descendentes de José podiam fazer canaletas cavando com os pés que teriam água, mas em Canaã, a terra que mana leite e mel, dependiam da chuva dos céu - dependiam do Deus das chuvas. Eles teriam leite e mel, mas teriam que confiar no Senhor todos os dias para tê-los. Esta experiência dava seguimento, de certa forma, ao milagre diário do Maná e do sustento no deserto.


Na terra prometida o sustento não vem mais dos rio, vem do Senhor. Quando cruzamos o Jordão, ou seja, aceitamos a Jesus para reinar sobre nossa vida, passamos a depender dEle. Não somente falando do sustento material, que talvez seja o ponto principal, mas dependemos dEle para todo o tipo de prosperidade que possamos experimentar: espiritual, emocional e física.


Talvez seja o seu momento de confiar nas chuvas e deixar o conforto do rio. Viver o milagre do sustento todos os dias. Confiar que as chuvas virão sempre. Este é o caminho para ter sempre o leite e o mel!

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Exito


Todos sabem o que é êxito e a maioria das pessoas sabe definir em detalhes o que seria ter êxito em sua vida. No mundo moderno, ter êxito na vida passa por ter um bom emprego, ser reconhecido como um bom profissional de sua área, ter uma família, uma situação financeira estável e, se possível, abastada. Pode-se adicionar viajar o mundo, ser famoso, conhecer muita gente. Talvez você não se identifique com todos os ítens dessa lista, mas bem provavelmente algum deles faz parte de suas aspirações nesta vida.


E o como seria o êxito cristão? O que espera um cristão de seu período por esta terra? Com certeza qualquer seguidor de Jesus adotaria alguns pontos da lista acima e talvez outros mais, tal como falar de Jesus para muitas pessoas, pregar em estádios, tocar para multidões, ser um líder proeminente em sua igreja local.


Nenhuma destas definições de êxito está errada, dependendo qual a motivação daquele que a possui. Mas, sem dúvida, o grande êxito da vida de qualquer ser humano está descrito em Mateus 5:21. Ao final da parábola dos talentos, o Senhor recompensa aqueles que foram fieis usando seus talentos dizendo: "Muito bem, servo bom e fiel... entra no gozo do teu Senhor". Sobre este assunto, recomendo o ensaio de C. S. Lewis entitulado "Peso de Glória". "Agradar a Deus", diz C.S. Lewis "... ser um verdadeiro integrante da felicidade divina... receber o amor de Deus, não apenas a sua piedade, mas ser o motivo do prazer, como um artista deleita-se em sua obra ou o pai em seu filho — parece impossível, é um peso ou carga de glória que nossa imaginação mal pode suportar. Mas é assim."


Esse deve ser o anseio que habita o coração de cada cristão, dia após dia. Um anseio que deveria queimar em sua alma e dirigir todas as suas ações. Uma glória que só pode ser alcançada por aqueles que são impactados pelo amor de Deus. Aqueles que o servem não pelo serviço em si, pois o serviço também é uma maneira de orgulho disfarçada, mas o servem por saberem que são aceitos apesar de qualquer atitude sua. Só a graça pode gerar cristãos assim.


Mas gostaria de enfocar-me no âmbito terreno: o êxito enquanto habitamos nosso corpo físico. O que devemos esperar como sinal de êxito? Como sabemos que estamos alcançando o que Deus define como êxito em nossa vida cristã?


Em João 15:1-3, Jesus diz: "Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o viticultor. Toda vara em mim que não dá fruto, ele a corta; e toda vara que dá fruto, ele a limpa, para que dê mais fruto. Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado. Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim."


Frutos são a consequência, o reflexo em que podemos ver quanto nossa vida está ligada à de Deus. São obras, ações que demonstram em que estado se encontra o nosso coração. O que nos salva é a fé que é um "ato" psicológico, algo que não podemos ver. Porém essa fé é demonstrada através de ações, que a Bíblia chama de frutos. Bons frutos demonstram êxito, demonstram que nossa vida cristã está bem.


Porém há algo muito pontual neste discurso de Jesus. Diz que toda o ramo, ou vara, que dá fruto, o Senhor o limpa para que dê mais fruto. E aí está um aspecto cristão do êxito que normalmente não nos damos conta.


Limpeza, ao meu ver, demanda dor. Limpeza fala sobre perder algumas coisas, ficar nu, passar por períodos de dificuldade que normalmente vêm depois de períodos em que tudo parece muito bem. Quando estamos dando muito fruto automaticamente, como bons cristãos, ficamos satisfeitos e nos sentimos exitosos. Porém a Bíblia nos mostra que sempre que damos muitos frutos o Senhor nos limpa, nos poda, para que possamos dar mais frutos.


Comece a prestar atenção nos exitosos das igrejas. Talvez sejam aquele que não aparecem, que estão passando por momentos de solidão e de limpeza. O que nós chamamos de deserto, vale, sofrimento, o Senhor talvez chame de período de poda. Este período não é sinal de pecado, iniquidade ou alguma falta, mas sim de que o indivíduo é exitoso: deu tanto fruto que o Senhor resolveu limpá-lo.


Se você se identifica com o que eu escrevo não se preocupe: você está a caminho do "Muito bem, servo bom e fiel" do Senhor. Este tempo logo passará e você dará mais frutos do que nunca. Aquele que projetou e plantou o Jardim do Éden é que está com sua mão sobre você, simplesmente porque ele se agradou de você. Você é exitoso!

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