A Estrebaria


Era uma noite estrelada. Aliás, era uma noite estrelada como nunca se havia visto no Oriente Médio. Maria estava relutante por ter de viajar nesses dias em que poderiam se cumprir os dias de sua gestação. Mas pensado bem, o que poderia dar errado numa gestação tão sobrenatural como a dela? Ainda em sua mente tudo parecia muito fora do real. Constantemente ela flagrava a si mesma questionando se tudo aquilo não era apenas fruto de sua imaginação. Talvez, então, aquela viagem estava nos propósitos do Deus de seus antepassados.

Mas toda a confiança desapareceu, assim como o vento leva as nuvens embora, no momento em que descobriram que não havia hospedaria para passarem a noite. José era apenas um carpinteiro, não sabia programar viagens. Só se prendia a detalhes na madeira, não em viagens. Por um momento Maria se irritou. Uma lágrima escorre do seu rosto enquanto uma voz interior a acalma. “Tudo tem um propósito”, lhe dizia aquela sussurro que, desde algum tempo atrás, já lhe parecia familiar.

José conversa com alguns amigos de sua cidade buscando uma solução. Maria começa a sentir dores no seu ventre.

A estrebaria! Era o único lugar onde poderiam passar a noite. Os hotéis estavam todos cheios. Havia gente mais importante que José ou Maria. Havia gente mais rica. Havia gente mais preparada para viagens.

E finalmente, no auge da noite, em meio a mugidos, balidos e outros sons que eles nunca haviam ouvido, nasce o menino. José e Maria não tinham idéia de como ele seria. Seria ele diferente dos humanos? Seu rosto brilharia? Alguma marca em sua pele? Nada. Era apenas um menino. Um menino que nasceu em uma estrebaria. E aquela estrebaria fez com que o mundo nunca mais fosse o mesmo. Pois bem. A história do nascimento de Jesus retrata a história do povo de Israel. Desde os primórdios da revelação de Deus para o seu povo eles receberam a promessa de um Messias, do hebraico, Ungido. O ungido. O salvador de Israel. Aquele que ia redimir a Israel de todos os seus males. Faria com que os filhos de Abraão possuíssem a terra. Paulo resume a promessa da seguinte maneira: “A Abraão ou a sua descendência coube a promessa de ser herdeiro do mundo.” (Romanos 4:13) Era somente isso que os israelitas esperavam: ser herdeiros do mundo.

Passaram-se anos. Décadas. Séculos. E o Messias ainda não havia aparecido. Os estudiosos concentravam seus esforços para fazer uma imagem do Messias e assim podiam provar, ainda que em sua imaginação, um pouco da era de ouro de Israel. Não se contentaram apenas em interpretar, mas lançaram mais regras e esforços que fariam o povo estar mais de acordo com Deus e preparado para receber o Messias. Criaram a Talmude. Mas não perceberam que na verdade estavam cegos, e o seu guia era seu próprio orgulho que os conduzia pelo caminho oposto da salvação.

Então, nesse noite sobrenatural, o Messias finalmente nasceu. Em alguns anos já começou a pregar a salvação e o motivo da sua vinda. Porém os hotéis estavam cheios. Aqueles lugares que deveriam receber o Messias estavam cheio de orgulho, de lei própria, de esforços inúteis. A estrebaria o recebeu. Aqueles pescadores galileus o receberam. Os gentios o receberam. Mas os hotéis o rejeitaram. Os estudiosos hebreus o rejeitaram. E se Jesus nascesse hoje? Será que a igreja não estaria lotada? Será que não estaríamos demasiadamente cheios de revelações próprias, esforços inúteis e uma mente fechada?

Eu sinceramente acho que sim. Acho que estamos, muitas vezes, caminhando em caminho oposto. Minha intenção não é ser polêmico, mas acho que se Jesus nascesse hoje, muitos crentes, senão a maioria, ficariam escandalizados com ele. Como diz Romanos 9:30-33, Ele seria uma pedra de tropeço.

Meu conselho: seja uma estrebaria. Estude a palavra de Deus, mas seja humilde o bastante para que Ele mude todas suas convicções quando necessário. Dependa dEle. Dependa de sua revelação. Os fariseus eram inflexíveis, enquanto os galileus foram moldados a cada minuto que passavam com Jesus.
Prefiro ser uma estrebaria, se assim Jesus possa nascer dentro de mim.

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A Filisteia e a Judia


Havia um homem, há muito tempo atrás em Israel, que nasceu com uma promessa: começar a livrar seu povo do poder dos seus inimigos. Tudo em seu percurso convergia para um final de heroísmo e liderança. Mas parecia que sua mente constantemente divagava pelos atalhos da irresponsabilidade, pelo curto caminho da vontade própria e da inconseqüência.

Nem a sua grande força, algo que todos diziam que somente poderia ser sobrenatural, vir do além, o impediu de apaixonar-se loucamente por uma filisteia, povo inimigo do seu. Esse casal tinha em comum tanto quanto o preto tem com o branco.

Aquele predestinado herói começou o paradoxo de uma convivência com uma rosa cheia de espinhos. Por vezes sentia o perfume suave, acariciava as pétalas, mas sempre se encontrava com a realidade de que suas mãos se machucavam e sangravam constantemente.

Certo momento o sonho místico se transformou em pesadelo. A traição. A paixão, acompanhada de toda a falta de compromisso que ela implica, foi vencida pelo laço sanguíneo dessa mulher. Entregou seu próprio companheiro à morte. O paraíso cedeu à prova elementar do tempo, transformando-se num inferno. Apesar de que qualquer coisa que não sobreviva às condições de tempo e espaço não é digna de se denominar paraíso.

Passaram-se muitos anos e nessa nação novamente nasce um homem predestinado ao heroísmo e ao sucesso. Desde sua infância ele foi diferente dos demais, apesar de sua aparência física não denunciar a nobreza que habitava dentro dele. Toda a sua força parecia se encontrar no lugar onde só seu Criador podia notar.

Há uma lei no universo que não pode ser quebrada: o oculto sempre sairá à luz. Com esse homem não poderia ser diferente. Logo sua humilde distinção foi percebida pelos seus conterrâneos, chegando até o palácio do rei. Acredite ou não, mas a sua inerente nobreza ofuscou a pompa do rei.

Mal sabia ele que uma surpresa o esperava: ele era amado pela filha do rei. Talvez ele não demonstrasse tanto o seu sentimento quanto ela, porém aceitou com tal disposição que o fez pagar o dobro do dote requerido.

Um dia seu próprio rei, seu próprio sogro, acometido pela insanidade que frutifica na árvore da inveja, decidiu matá-lo. Acabar com a vida daquele homem que se destacava, sem a mínima explicação. Mas ao seu lado estava uma mulher que se confundia consigo mesmo. E nenhuma definição pode ser melhor que “fusão”: um compromisso que leva duas matérias a se tornarem uma, não se podendo mais estabelecer separação entre elas. E assim, como se salvasse sua própria vida, ela faz de tudo para que a vida do seu amado seja poupada. O compromisso chamado amor faz com que ela lute contra seu próprio sangue, seu próprio pai. O maior rei que Israel não seria lembrado agora se não fosse um ato de amor e fidelidade de sua esposa.

Essas são duas histórias reais descritas na Bíblia. A primeira fala de Sansão e Dalila, no livro de Juízes, capítulo 6. A segunda, de Davi e Mical, no livro de 1 Samuel, capítulos 18 e 19.

Um relacionamento deve te fazer mais forte e não cortar tua força como alguém corta um cabelo. Um relacionamento deve ser mais forte que laços de sangue. Um relacionamento deve dar a vida pelo outro. Um relacionamento deve ser baseado em compromisso, não em sentimento. Um relacionamento deve fazer ambas as partes ao cumprimento dos seus sonhos, da sua “predestinação” e não matar eles.

Restaure a instituição família e será apenas um passo para que o Reino de Deus venha. E pensar que toda essa missão começa com dezoito, dezenove, vinte e poucos anos.

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A Teologia do Namoro



Quis mudar um pouco o assunto dos posts enquanto minha cabeça está cheia de perguntas sobre os assuntos que eu vinha escrevendo. Então resolvi escrever sobre algo mais simples e que desperta muito interesse, inclusive em mim. Apesar de não ter nenhuma autoridade pra falar sobre o assunto, achei interessante comentar um pouco sobre o que tenho pensado sobre isso.

Namoro. Palavra que faz brilhar os olhos de qualquer cristão desde pré-adolescentes até adultos que estejam solteiros. Isso é bom, já que deveríamos preservar no meio cristão o sentido completo do amor entre homem e mulher. Na verdade não quero e nem posso falar sobre conselhos de como saber se a pessoa que você está pensando agora é o escolhido de Deus, ou qual a idade e as circunstâncias certas para começar um relacionamento. Na verdade eu não sei. Mas antes que esse post se torne mais sentimental e meloso acho melhor ir ao assunto principal.

Uma dúvida que sempre vi ser discutida entre os grandes conhecedores do assunto é se Deus tem uma pessoa certa escolhida para cada um. Já li e escutei de grandes vultos do assunto que pregam convictamente que Deus não tem uma só pessoa escolhida para mim, pois isso iria contra o meu livre-arbítrio. Então, a escolha seria totalmente minha. Tenho um amigo que sempre apresenta um argumento interessante: como posso crer que há uma pessoa escolhida por Deus para casar cada um se há mais mulheres que homens no mundo? Muito bem, já faz um tempo quando me deparei com essa questão. Claro que acreditar na teologia da “cara-metade” torna tudo mais romântico e bonito, mas estará correta?

Resolvi então buscar o que a Bíblia fala sobre o assunto e, obviamente, minha primeira fonte de informação foi a narrativa sobre Isaque e Rebeca, que, acho eu, é a história mais utilizada para ensinar-se sobre o assunto. Gen 24:12-14: “E disse (o servo de Abraão): Ó Senhor, Deus de meu senhor Abraão, dá-me hoje, peço-te, bom êxito, e usa de benevolência para com o meu senhor Abraão. Eis que eu estou em pé junto à fonte, e as filhas dos homens desta cidade vêm saindo para tirar água; faze, pois, que a donzela a quem eu disser: Abaixa o teu cântaro, peço-te, para que eu beba; e ela responder: Bebe, e também darei de beber aos teus camelos; seja aquela que designaste para o teu servo Isaque. Assim conhecerei que usaste de benevolência para com o meu senhor.” Não é necessária nenhuma interpretação ou exegese profunda para perceber que Deus tinha uma pessoa designada para Isaque. Mas e o nosso livre-arbítrio onde fica? Na cruz, na piscina do batismo ou onde você possa ter deixado ele. Servir a Deus é justamente renunciar nossa vontade para seguir a dele. Obviamente, o homem tem livre-arbítrio para não fazer a vontade de Deus, mas nem por isso excluímos o fato que Ele tem uma vontade, um desígnio. Era de extrema importância que Isaque fosse casado com a esposa correta, pois eles dariam seguimento ao legado e a promessa de Abraão. Da mesma maneira é muito importante que eu e você estejamos casados com a pessoa correta se queremos fazer a vontade de Deus por completo.

Na verdade o assunto não é tão simples quanto parece. Está bem claro que Deus tem uma pessoa designada para aqueles que querem seguir a vontade dele, mas isso não tira o nosso livre-arbítrio. Sendo que um relacionamento é feito de duas pessoas, a qualquer momento uma delas pode usar de seu livre-arbítrio para não seguir mais a vontade de Deus. E aí relacionamentos podem terminar de maneiras doloridas. Bom, aí entra um mistério que nós nunca vamos poder entender. Se a pessoa que havia sido designada para você prefere fazer sua própria vontade e escolher por conta própria ela sofrerá grandes conseqüências, mas não você. Eu sei que esse argumento não é muito maduro por assim dizer, mas é realmente como creio que tudo funciona. E não esqueça nunca: “Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus.”

O único conselho que posso dar é este: esteja disposto a seguir sempre a vontade de Deus e busque saber a sua vontade. A família é a base da sociedade. Uma família cristã bem estruturada pode fazer grande diferença na sociedade.

Com certeza é um post bem incompleto sobre o assunto, só quis realmente tratar sobre essa problemática. Mas quero deixar um parênteses nesse final de esperança para meus amigos mais íntimos: Se você pensa que deixar Deus escolher a pessoa com que você vai casar significa que você passará a vida inteira junto daquela irmã de olhos atraentes (um atrai o outro), que não se importa muito com seu peso, menos ainda com sua roupa, mas que sabe a Bíblia de cor, ficam alguns versículos para meditação: Gen 12:11- "Quando ele estava prestes a entrar no Egito, disse a Sarai, sua mulher: Ora, bem sei que és mulher formosa à vista"; Gen 24:15 - "Antes que ele acabasse de falar, eis que Rebeca, filha de Betuel, filho de Milca, mulher de Naor, irmão de Abraão, saía com o seu cântaro sobre o ombro. A donzela era muito formosa à vista, virgem, a quem varão não havia conhecido; ela desceu à fonte, encheu o seu cântaro e subiu. "Gen 29:17 - "enquanto que Raquel era formosa de porte e de semblante."

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A grande diferença entre Ceu e Inferno



Você já pensou que todos os seres humanos são eternos? Nós, cristãos, cremos que vamos viver eternamente, porém a existência de todos os seres humanos é eterna. A Bíblia se refere à vida eterna como o futuro daqueles que são justificados pelo sangue de Jesus, porém em nenhum momento diz que os não-justificados deixarão de existir, porém não se refere ao seu futuro como vida.

Isso me faz pensar no conceito que temos de vida e morte. (Recomendo lerem a definição de vida da Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Vida). Vida não é o período em que estamos nessa terra, ou a nossa existência. E morte não é apenas o suspiro final de uma existência breve.

Estava observando nessa semana as palavras em grego para “vida”, no livro de João. Todas as vezes que Jesus ou João se referem a vida que Deus nos dá, aquela conquistada por Jesus, é usado o substantivo “zoe”. Já a vida natural, que é citada nos momentos que se referem a Jesus entregando sua vida pela humanidade, o substantivo é “psuche”. Ou seja, o conceito bíblico de vida na Bíblia é diferente do nosso.

Vida, biblicamente expressada em “zoe”, não se refere à existência. É algo muito além. É muito complicado achar um significado para a vida, mas creio que a nossa vida biológica (psuche) é uma sombra dessa vida real (conforme já afirmava C.S. Lewis). Bom, nossa vida biológica é um presente, algo que não podemos controlar. Algo que recebemos de nossos pais. Algo que é influenciado pela herança genética que recebemos deles. É a base e o sentido da existência. Volto a dizer que é muito complicado definir, mas já dá para pensarmos sobre isso.

Bom, sendo a “vida bíblica” diferente do conceito que temos, creio que o mesmo acontece com a morte. Como já disse, se a morte fosse só um momento pelo qual todos teriam que passar, a Bíblia não se referiria a existência pós-vida biológica como morte eterna para aqueles que não foram justificados pela obra de Jesus. Outro tema complexo, mas penso que na morte perdemos toda semelhança que temos com o criador. Então seria uma existência eterna sem nenhuma semelhança com Deus. Não gostaria nem de pensar em existir ou ver alguém que eu amo existir dessa maneira, posto que Deus é a fonte de toda a felicidade, amor, paz, bondade, prazer. Agora imagine uma existência eterna apenas com valores opostos a esse.

Mas não é esse o assunto principal. Na verdade tudo começou quando estava lendo essa semana o livro de Romanos falando sobre nossa justificação pela ressurreição de Jesus. Fiquei pensando qual o motivo de justificação, ou seja, sermos tornados justos, para alcançarmos a vida eterna. Demorei um pouco refletindo, mas logo lembrei de assuntos de posts anteriores. O motivo creio que é o seguinte: como falei em outros posts, o homem tinha disponível para si duas árvores no jardim. Ele escolheu a “Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal”, perdendo então sua pureza por causa da desobediência. Uma das primeiras atitudes subseqüentes de Deus é fechar o caminho a Árvore da Vida, ou seja, à vida eterna. Porque senão o ser humano, destituído da vida de Deus (ou seja, todas as suas qualidades) viveria uma vida eterna de tristeza, amargura e autodestruição. Por isso precisamos de justificação para alcançarmos a Vida Eterna. Na verdade a justificação é a principal diferença entre céu e inferno. É uma conseqüência natural: seres humanos expressando as qualidades altruístas de Deus preservam sua existência, já os que não possuem essas qualidade destroem não só a sua, mas também a dos outros.

Jesus nos trouxe a oportunidade novamente de sermos justos. Não tenho muita idéia do que vai acontecer a partir da nossa morte biológica: se os que crêem em Jesus vão ser perfeitos a partir desse momento ou como será. A única coisa que sei é que quero aproveitar essa vida biológica para ser revestido da vida de Deus para desfrutar de uma Vida Eterna.

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