Sou o único ou você também já passou por alguma crise ao ver pessoas sendo usadas por Deus apesar de viver uma vida totalmente incompatível com a Sua Palavra? Um exemplo: certa vez, li sobre pessoas que sentiam algo como a “presença de Deus” em um show do U2, quando eram cantadas músicas como “40” (baseada no Salmo 40). Outro exemplo: pessoas se convertendo em cultos onde o pregador sabidamente está em pecado. Como explicar essas coisas? Ou, ainda, como explicar o derramamento do Espírito Santo em círculos onde se pratica a idolatria a imagens e santos?


Apesar da relatividade que envolve essas questões (como, por exemplo, “o que é sentir a presença de Deus realmente?” ou o jargão mais pragmático das perguntas difíceis evangélicas: “o diabo imita a Deus”), Jesus sabia que coisas assim poderiam acontecer. Mateus 7:22 diz: “ ‘Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então, eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal”. Isso significa que o ministro que profetiza, faz milagres e maravilhas pode ir para o inferno. Jesus deixa claro que os sinais que podem ser operados através da vida de uma pessoa não refletem o que ela vive em sua vida diária, e mais, não asseguram a sua salvação.


O povo evangélico em geral ainda não sabe reconhecer um homem de Deus. O estereótipo do homem “ungido” é o pregador que grita, que supostamente ou realmente realiza milagres, que supostamente ou realmente profetiza. Já tive a oportunidade de conhecer vários “homens de Deus” que se encaixam nesse estereótipo e conhecer pessoas íntimas desses homens. Em sua maioria, são pessoas que não vivem nem um pouco de cristianismo na sua vida diária. Seus gritos camuflam o pecado. Seus milagres escondem a podridão das suas motivações.


Então, o que é ser um homem ou uma mulher de Deus? Quem devemos realmente admirar? O versículo 20 do capítulo em questão de Mateus nos responde claramente: “Pelos seus frutos vocês os reconhecerão”. Jesus quer que seus seguidores tenham discernimento e, para isso, eles devem observar os frutos. Aquele que ama, é humilde, benigno, pacifista, fiel, manso e tem domínio próprio. Um DVD de pregação nunca vai mostrar se o pregador tem ou não essas qualidades. Somente conhecendo o indivíduo em seu andar diário poderemos descobrir. Por isso, gostaria de dar uma dica desde já: antes de admirar aquele pregador ou aquele cantor famoso, admire o pastor ou o homem e a mulher de Deus que você vê todos os dias e manifesta esses frutos citados acima em sua vida. Talvez você não vá encontrar aquele pregador famoso no céu, mas poderá encontrar o irmão da sua igreja que se importa com os pobres, que ama os seus irmãos, mesmo sem saber segurar um microfone.


Mas nesse ponto surge a pergunta: como Deus pode agir por meio desse tipo de gente que não respeita os mandamentos de Cristo, que finge ser algo que não é? Acredito que a resposta para essa e para algumas das perguntas do primeiro parágrafo se encontram na palavra grega kerygma.


Kerygma significa pregação. É a mensagem do evangelho sendo levada a outras pessoas. É o logos, ou seja, o Verbo, aquele pelo qual todas as coisas foram feitas, sendo proclamado. O kerygma, isto é, a pregação da Palavra de Deus tem poder em si mesma, porque quando o Filho de Deus é pregado e anunciado, o poder e a presença do Espírito Santo estão ali testificando a sua veracidade. 1 João 5:8 nos mostra que o Espírito Santo testificaria sobre Jesus na terra, e quando o nome de Jesus é pregado podemos ter a certeza que a Terceira Pessoa da Trindade estará ali glorificando ao Filho, independentemente de quem é o instrumento.


O kerygma reafirma a Soberania de Deus. Segundo o discurso de Jesus, ainda o homem não salvo pode proclamar a Jesus (totalmente consciente disso ou apenas em parte) e o Espírito Santo estará ali testificando no interior dos ouvintes que Jesus Cristo é o Filho de Deus. Que verdade grandiosa! Onde há kerygma, onde houver sendo pregado o nome de Jesus, o Espírito Santo ali estará.


Fica claro que o nível de “cristandade” de uma pessoa não é medida pelo poder demonstrado quando ela prega. O Senhor é totalmente responsável por isso. Não pense que muitas conversões em uma noite de pregação ou em um show de uma banda testificam a favor da vida daqueles que estão sendo instrumentos, apenas está testificando a favor de que Jesus é o Filho de Deus.


Um verdadeiro cristão só pode ser conhecido através de seus frutos. A eloqüência não diz nada. Os gritos não expressam nada. O choro não demonstra nada. Apenas o amor produzido pela obra de Jesus na vida de uma pessoa garante a sua fé e a sua salvação.

2 Responses so far.

  1. O apóstolo Paulo fala em um momento de pessoas que pregavam por egoísmo, mesmo assim ele glorificava porque era a palavra de Deus que estava sendo pregada.

    É verdade que alguns pregam a Cristo por inveja e rivalidade, mas outros o fazem de boa vontade.

    Estes o fazem por amor, sabendo que aqui me encontro para a defesa do evangelho.

    Aqueles pregam a Cristo por ambição egoísta, sem sinceridade, pensando que me podem causar sofrimento enquanto estou preso.

    Mas, que importa? O importante é que de qualquer forma, seja por motivos falsos ou verdadeiros, Cristo está sendo pregado, e por isso me alegro.
    Filipenses 1:15-18

    Deus te abençoe.

  2. Anônimo says:

    Já conheci muitos desses personagens. Já me fez a mesma pergunta e você deu uma das respostas mas sabia que eu já vi.
    Abrazo

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