Dores de Parto


Qual a pior dor que uma pessoa pode sentir? A Associação Internacional para o Estudo da Dor estudou a intensidade da dor em alguns pacientes, para tentar chegar a conclusão de qual a maior dor que um ser humano pode sentir. Apesar de ser muito complexo chegar a um resultado objetivo - pelo fato de envolver um componente subjetivo, que é a reação emocional - os pesquisadores listaram as "top mais". Entre elas estão: cólica renal, cólica biliar, gota, infarto, hipertensão intracraniana e dor de parto.


Esta última é a primeira dor descrita na Bíblia e, talvez, umas das primeiras na literatura. Como homem, nunca vou experimentar (graças a Deus!) os sofrimentos que envolvem o nascimento natural de um ser humano, mas, desde Eva, essa dor precede todo o choro de um recém-nascido.


A história da dor de parto é curiosa, pelo fato de ser ela uma maldição imposta por Deus após o pecado original. Deus declara que o sofrimento seria um obstáculo para que a mulher pudesse dar à luz filhos. O momento mais surpreendente e mágico da vida do ser humano agora era acompanhado de uma intensa dor, gerando um contraste colossal. O ato do parto inicia-se com uma recordação da morte, vestida de dor, e termina com a manifestação da vida no novo indivíduo que respira pela primeira vez nesta terra onde vivemos.


Tenho certeza de que Deus não faz nada sem uma razão, e também não há nenhuma atitude Sua que não seja motivada por amor. Acredito que, mais do que uma maldição, Deus estava anunciando seu Evangelho que traria o homem de volta ao estado que ele havia recém perdido.


Deus, em suas primeiras palavras ao homem e à mulher depois de sua queda, já começa a revelar o seu plano redentor. Ele é quem enfrentaria sofrimento e dores do pior tipo para gerar filhos. Os descendentes de Eva experimentariam o novo nascimento após o sofrimento e as dores que o próprio Deus se disporia a enfrentar na cruz.


O nascimento é um ato passivo para o recém-nascido. Não há nada que ele faça que o ajude a nascer. Todo o esforço é por conta da mãe, que sabe que enfrentará as dores de parto desde o começo da gravidez, porém se enche de coragem por amor ao seu filho. Assim é conosco. Não há nada que possamos fazer para nascermos de novo além de crer em Jesus - por isso se chama graça! Todo o esforço e toda a dor foi vencida por Ele na cruz, por amor a mim e a você. O motivo? Porque para Ele valia a pena ver o nosso rosto no seu colo após o seu sofrimento. Valeria a pena enxugar a lágrima do nosso rosto e dizer: meu filho!


Como disse Tagore: "Toda criança que nasce no mundo é um recado de que Deus ainda acredita na humanidade". E todo trabalho de parto é o evangelho demonstrado em sua forma mais antiga e pura.

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Sofrimento



De alguns anos pra cá, muita coisa mudou em meu entendimento de fé. Passei por dois grandes acontecimentos que fizeram dissipar um pouco de uma neblina que cobria meu entendimento sobre Deus e sobre a fé cristã.


O primeiro acontecimento me fez perceber que eu, sendo cristão, não estaria livre de sofrimentos. Eles sempre haverão. E ser cristão, a partir de uma perspectiva superficial, não traz nenhuma vantagem sobre os não-cristãos, no que se refere às mazelas que acometem os seres humanos. A salvação de nossa alma não traz consigo nenhum remédio milagroso que termina com o sofrimento e os problemas comuns a todos os homens. Sempre haverá uma pessoa que usará de seu livre arbítrio para te magoar, uma má notícia que sobrevirá quando você menos espera, uma equação da vida que você não consegue resolver. Acontece com quem não conhece a Jesus. Acontece com aqueles que O conhecem e O seguem.


Apesar de compreender essa verdade tentei torná-la mais suave. Quis convencer-me de que, se eu fosse um cristão exemplar e uma pessoa que buscasse avidamente a perfeição, seria recompensado com grandes bênçãos celestiais e teria meus tempos difíceis subtraídos. O segundo acontecimento me fez perceber que não. Ficou claro para mim que com Deus não há troca de favores, há somente graça – o favor procede de uma parte só, a “parte de cima”. Nenhum esforço humano vai fazer com que passemos por menos tribulações ou adversidades: elas não dependem da nossa atitude. Elas estão acima e além de nosso controle. Bênçãos não são compradas. Por nosso mérito chegaremos a um lugar só: o inferno. Todo o lugar ou posição onde podemos chegar é um presente da graça de Deus.



Mas então, qual a vantagem de ser cristão nessa vida? Apenas a salvação de nossa alma e a esperança de um futuro melhor? Se fosse apenas isso, já valeria à pena ser cristão, mas há algo a mais. Há uma faceta da salvação que citamos pouco, mas que retrata talvez a maior distinção entre um cristão e um descrente. O nome dela é PROPÓSITO.



O versículo que mais me fascina na Bíblia é o de Romanos 8:28, que descreve essa verdade: “Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito”. Quando aceitamos a Jesus como nosso Salvador e Senhor não somos salvos apenas do inferno, mas também do acaso. Não somos mais tripulantes de um barco chamado carma ou destino que navega sem rumo, mas entramos em um barco seguro onde Jesus é o capitão. As ondas podem bater e podem balançar o barco fortemente. Pode parecer que ele anda sem rumo num oceano onde tudo que se vê é água. Pode ser que outros barcos tentaram afundar o seu. Pode ser que a neblina da tempestade esteja tão densa que você nem mesmo avista o seu capitão. Mas ele está lá! Esse barco chamado ‘vida’ está nas mãos de um capitão que conhece muito bem o mar por onde está navegando e ele aproveita cada onda para direcionar o barco para o local onde a bonança o espera.



A partir do momento de nossa conversão não há nada que aconteça em nossa vida que não coopere para o nosso bem. Os sofrimentos já não tem aquele gosto impossível de ser digerido, mas se tornam doces depois de algum tempo. Não existe mais nada mal em essência para o cristão, porque o Deus onipotente faz com que tudo se transforme para bem. Não existem mais coincidências ou tragédias: existem planos divinos!



É nosso desafio ver o sofrimento com outros olhos. Com os olhos daquele que preferiu morrer em uma cruz para que a nossa vida tivesse propósito e sentido – sentido esse que segue sempre a bússola divina.



“Eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos”. Essas são as últimas palavras de Jesus para seus discípulos antes de subir aos céus. Ele não disse que não haveriam aflições, mas garantiu que você nunca estaria sozinho.

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Domingo


Domingo é meu dia da semana predileto. Sei que muitas pessoas preferem sábados, sextas, feriados ou outro dia da semana, mas eu sempre senti no domingo algo diferenciado. Talvez seja o fato de acordar e desfrutar de um ritmo muito mais lento (ou talvez, muito mais natural) em todo o ambiente que nos cerca no primeiro dia da semana.

Na verdade, o conceito de Domingo traz consigo muitas verdades que nunca percebemos, mas que estão lá, mostrando-nos uma realidade mais elevada e, redundantemente, mais real que a nossa.

Primeiramente, há uma discussão (da qual não quero fazer parte) sobre se deveríamos ter como dia de descanso o sábado, como o fazem os adventistas, ou o domingo, como praticam o resto dos cristãos. Nesse post quero tratar do dia de descanso chamado de shabbat pela Bíblia.

É interessante observarmos que Deus é o instituidor e o primeiro "desfrutador" do shabbat. Por seis dias ele trabalha em sua criação, e no sétimo inaugura o dia do descanso: dia de aproveitar o que foi criado, de deliciar-se no fruto do trabalho divino. Obviamente que Deus não cansou após seis dias de trabalho, apenas, como um bom tutor, dá o exemplo que o homem deveria seguir.

Os seis dias de trabalho de Deus tornam a criação completa: nada mais precisava ser feito, tudo estava em seu estado perfeito. Deus trabalhou seis dias para que o homem não precisasse fatigar-se. Todos os dias eram shabbat no Jardim do Éden. Na criação Deus já mostrava seu caráter de completa doação e demonstrava seu amor totalmente altruísta. O homem só precisava desfrutar!

Mas como sabemos bem, Adão preferiu deixar sua ingenuidade em relação ao bem e o mal de lado, deixando assim de confiar no seu Criador. A partir daí o trabalho é instituído: se o homem quisesse comer, teria que suar o rosto. Tudo isso na verdade é também um simbolismo da nova era que iniciava na relação entre Deus e o homem. O homem teria que esforçar-se para chegar-se a Deus. Não haveria mais relação entre Deus e o homem se não fosse a partir do esforço do seguimento da Lei. Os descendentes de Adão começaram a "suar a camisa" a partir da instituição da Lei por Moisés. Só assim teriam a chance de relacionar-se com Deus.

Já conhecemos o capítulo seguinte dessa história, em que o homem não consegue realizar o que a Lei lhe determinava. O seu esforço de ser santo, condição requerida para relacionar-se com Deus, era totalmente insuficiente. Então Deus mais uma vez age da mesma maneira com que agiu na Criação: trabalha para que o homem não precise mais trabalhar. Ele dá o seu esforço, vindo Ele mesmo na pessoa de Jesus para morrer por nós. O Criador faz tudo o que precisamos para acabar com a separação que havia entre nós e Ele. Agora só precisamos aproveitar essa relação e crer nele. Todo o resto nos é dado de graça! O suor divino nos conquista de novo a possibilidade de vivermos o shabbat, o descanso em Deus e na sua obra.

O shabbat também é uma alegoria ao descanso final que teremos no céu, onde não só teremos a nossa relação com Deus restaurada, o que já temos hoje, mas também viveremos no paraíso com Ele, desfrutando de um descanso eterno onde todos os dias são domingo!

Por isso a cada domingo temos uma página da Bíblia escrita em nossa rotina. No simples fato de termos os domingo escutamos Deus falando sobre o céu, nosso descanso futuro, sobre seu amor totalmente dedicado a nós, em seu trabalho realizado na cruz, e seu cuidado por nós, em nos dar um dia onde podemos descansar nossa mente e nosso corpo para estarmos prontos pra mais um ciclo semanal que se inicia a cada segunda-feira.

Para terminar, é bom percebermos também que temos a mania de pecar nos domingos. Fazemos isso quando não vivemos o propósito do domingo: um dia de descanso. É importante que os líderes das igrejas percebam que esse dia foi dado para que o ser humano descanse, e não se encha de atividades relacionadas à igreja. É um dia para que nos relacionemos com Deus de uma maneira mais íntima e sobrenatural, vivendo o propósito e a profecia do domingo.

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Passos para ser um grande lider



O último post me fez repensar muita coisa sobre minha vida e os meus conceitos. Deus tem me feito ver o religioso imoral que vive dentro de mim. Deus nos mostrou o caminho para chegar até ele: seu amor demonstrado em Jesus. Todos os outros caminhos que os homens criam, sejam eles rituais de libertação, dízimos e ofertas mil, cabelos compridos, jejuns forçados, sacrifícios autocomiserados, e toda a lista que preenche nosso dia a dia gospel são chamados de religião. São os caminhos que os homens inventam pra chegar até Deus. E eu estou cheio deles.


Meus erros, minhas falhas e pecados estão mais salientes do que nunca. Há dias que me apavoro de olhar para mim mesmo. E a conclusão que eu chego é que estou alcançado o nível que Deus planejou para mim nos últimos anos. Este nível se chama nível da desistência. Há apenas duas saídas: A primeira é afastar-se de Deus por não ser bom o bastante. Depois de tanta convicção sobre a existência de Deus na minha história, essa não é mais uma opção. Então só posso optar pela segunda alternativa: confiar que Deus me ama e que eu não preciso fazer nada para ser aceito por Ele.


Talvez o que me magoe tanto é pensar no meu futuro. Sempre sonhei em ser um pastor, um ministro ou algo relacionado à Igreja. Mas pelos meus erros e atitudes me sinto tão longe desse alvo. Afinal, para ser pastor ou líder terei que ser bem mais equilibrado e menos pecador, correto? Não são os pastores pessoas mais “elevadas” do que os leigos?


Meu grande alívio se encontra na pregação de Jesus. Em seu primeiro encontro com Pedro, o futuro líder da igreja percebe a grandeza e a divindade de Jesus quando eles realizam uma pesca milagrosa em Lucas 5:1-11. Pedro reage como qualquer ser humano quando se aproxima de Deus: “Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador!” (Fica um bom conselho: você sabe que está se aproximando de Jesus, quando se sente pequeno e pecador). E Jesus, em seu infinito amor responde a Pedro: “Não tenha medo; de agora em diante você será pescador de homens”. Que amor é esse?! Quando nos damos conta de nossos pecados e pedimos que Ele se afaste de nós, Jesus nos diz: “Não tenha medo” e ainda nos promete um futuro glorioso.


Novamente no final do livro de João, estava Pedro pescando. Novamente Jesus se revela com uma pesca milagrosa. Desta vez Pedro não encontra em si nem coragem de dirigir a palavra a Jesus. Seu pecado está tão visível que não permite que sua voz tenha coragem de declarar alguma coisa. Mas Jesus o mostra que ainda o ama. Que Pedro não necessita fazer nada para ter o amor de Jesus. E novamente lhe oferece um futuro: apascenta minhas ovelhas.


Freud dizia que para o homem ser feliz ele necessita de amor e trabalho. Essa premissa parece ser verdadeira no discurso de Jesus. Primeiro o Mestre expõe seu grande amor. E depois revela o quão útil é o indivíduo trabalhando ao Seu lado. Eis o paradoxo: Somente depois que percebemos a inutilidade da nossa força e da nossa justiça própria é que podemos ser úteis no trabalho de Deus. Isso acontece para percebermos algo que a maioria de nós, que cremos em Deus, não estamos percebendo: que não existem troca de favores com Deus. Não somos dignos de nada e não precisamos fazer nada. Tudo que recebemos é de graça e por amor!


E assim se faz um grande líder: com muitos pecados e o amor de um Pai que toma a iniciativa e se preocupa com cada detalhe da vida de seus filhos.

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A Base


Estou disposto a viver uma vida de fé muito mais humilde do que tenho vivido!

Repetidamente tenho tentado viver corretamente, esperando que Deus vá cumprir seu papel de me dar algo em troca. Mas não tenho visto Deus cumprir seu papel. Estou fazendo tudo que me ensinaram desde pequeno e seguem me ensinando. Tropeço muitas vezes e cometo o que entendemos por “pecado”. Peço perdão da minha lista de pecados diários e me consolo com o fato de eu estar tentando viver corretamente. Mas não tenho visto Deus cumprir seu papel de me dar o que eu acho que mereço. O que é pior: vejo pessoas que têm atitudes bem menos corretas que eu recebendo todo o tipo de bênçãos. Mas não tenho visto Deus cumprir seu papel de me dar o que eu tenho pedido.


Descobri que penso que Deus tem uma dívida comigo: eu estou fazendo as coisas da maneira mais correta possível, muito melhor que outras pessoas da igreja, então ele deve, pelo menos, me dar algumas dezenas de bênçãos. Não percebi eu que essa atitude neo-evangélica que eu tanto condeno também está dentro de mim. Essa motivação maligna e farisaísta habita a alma deste cristão há vários anos.


A Bíblia diz que nós amamos porque Ele nos amou primeiro. Acredito que havia um só uma motivação em Deus quando ele criou o homem e seu entorno: Deus precisava amar. Eu imagino Deus, no período pré-criação, transbordando amor. O efeito desse dilúvio de amor por parte de Deus foi a criação do homem. O ser humano foi, ao mesmo tempo, efeito e objeto deste dilúvio de um sentimento perfeito. Se você acha que foi criado para amar a Deus ou adorá-lo, está completamente equivocado. É muita pretensão achar que Deus necessita de algo de nós. Ele apenas quer nos dar amor - um amor comprometido a nos fazer felizes a qualquer custo. Há ainda aqueles que crêem que foram criados para servir a Deus e acabam vivendo como escravos. O homem foi criado para ser amado por Deus. Por isso que, afastados de Deus, sentimos um vazio existencial enorme que tentamos saciar com relacionamentos amorosos, sexo, bebida, festas, etc. Tudo isso é, na sua essência, uma busca religiosa - uma busca por Deus.


Amar a Deus é apenas conseqüência. Primeiro Ele nos ama e, conforme recebemos este amor, passamos a amá-Lo. Nosso amor por Ele é como uma chama, onde o Seu amor por nós é o combustível. Não há como amar a Deus sem ter convicção de que Ele nos ama. E assim, quanto mais cremos e vemos seu amor, mais o amamos.


Este versículo de João 4:19 omite o pronome “o”. Ou seja, está escrito “nós amamos”, e não “nós o amamos”. O capítulo quatro de João fala do amor ao próximo e este versículo nos dá a fórmula para lograrmos isto: receber o amor de Deus. Amar o próximo também é uma conseqüência de crermos que Deus nos ama. É um fruto e, como todo fruto, uma conseqüência. Ou seja, o fruto é a conseqüência natural da árvore, e não a árvore do fruto. Da mesma maneira só daremos fruto se crermos que Deus realmente e incondicionalmente nos ama.


Pois bem, se Jesus nos disse que o cumprimento da Lei se resume em “amar a Deus e ao próximo como a si mesmo” e se João nos mostra que estes dois são conseqüências de recebermos o amor do Pai, nos resta dizer que ser amados pelo Pai e crer neste amor incompreensível é a base da fé cristã. (Se alguém discorda dessa conclusão e acha que estou eximindo o cristão de suas responsabilidades, por favor, comente.)


Neste ano eleitoral onde estamos ouvindo diversas propostas e promessas para um país melhor eu gostaria de propor algo às igrejas: que voltem a pregar sobre o amor de Deus e que voltem a fazer com que as pessoas se sintam amadas. Essa mudança de foco parece extremamente irresponsável, mas eu acredito que todo o resto: ofertas, vidas restauradas, curas, responsabilidade, transformação, e tudo o que esperamos que esteja acontecendo no interior de uma igreja e da vida de seus membros virá a partir daí. Voltemos à base da Bíblia: “e Deus amou ao mundo”.


Quanto a mim, caí no erro de pensar que poderia dar algo a Deus. Vivi muito tempo com um fariseu bem escondido dentro de mim. Além de pensar que poderia dar algo a Deus, pensei que ele deveria dar algo a mim como recompensa. Estou percebendo que Ele deu tudo, e que minha salvação e a sua bondade não depende do que eu faço, mas do que já foi feito por mim. Como escrevi há algum tempo atrás, humildade talvez seja reconhecer que preciso ser amado por Deus. E estou disposto a viver uma vida de fé muito mais humilde do que tenho vivido!

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A Igreja no Brasil


“Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças.” (Marcos 12:30)


Freqüento igrejas evangélicas desde que nasci. Fui batizado uma vez quando criança na Igreja Luterana, fiz a confirmação de meu batismo aos doze anos na mesma igreja, fui batizado mais uma vez, agora por imersão, em uma igreja neo-pentecostal. Participei de encontros, pós-encontros, pré-encontros, igrejas com visão de G12, etc. Além disso, freqüentei igrejas em outro país e conheci crentes das mais diversas regiões do mundo e pertencentes aos mais diversos braços da cultura evangélica. Confesso que essa longa jornada, não apenas visitando, mas freqüentando muitas igrejas em muitos lugares, deu-me uma visão bastante ampla do círculo evangélico.

Foi uma grande luta manter-se firme passando por diversos lugares e diversas épocas, visões e modismos das igrejas evangélicas, principalmente vendo tantos amigos que estavam totalmente imersos em modismos e “paixões” desistindo da fé. Cada vez mais aumenta o número de apóstatas do século XXI, que não conseguem permanecer firmes nas igrejas que mudam tanto de visão. O problema é que a igreja evangélica recebe revelações boas e saudáveis, mas as leva a extremos, fazendo com que a revelação acabe perdendo sua validade.

Para combater os extremos surge uma revelação nova, totalmente contrária à antiga. Logo essa também se torna extremista e perde sua razão. Esse modus operandis não é privilégio da Igreja brasileira. A literatura já mostrava essa tendência humana de se contrapor a visões buscando outro extremo. Por exemplo, nos períodos literários brasileiros encontramos logo após o Romantismo, o Realismo – duas correntes totalmente contrárias, e assim com outros períodos.

A Igreja no Brasil começou demonstrando seu amor a Deus com todas suas forças. Diversos missionários europeus e norte-americanos entregaram suas vidas com o objetivo de evangelizar o país e fazer do protestantismo o que ele é hoje no Brasil. O movimento missionário influenciava muita gente e até houve alguns mártires em solo tupiniquim.

Já quando me lembro de minha infância, no que se refere a minha experiência, recordo-me de uma igreja que amava a Deus de todo o seu coração. O foco principal eram os sentimentos. As músicas, como sempre retratando a cosmovisão de uma cultura, eram bem emocionais e muito tocantes. Apesar de algumas correntes de hoje dizerem que as emoções são más, a maioria das pessoas que conheço e estão firmes hoje na igreja tiveram sua experiência de conversão nessa época, inclusive eu.

Logo começaram a surgir movimentos que ressaltavam o espiritual, amando a Deus com toda sua alma. Muitos, inclusive eu, foram seduzidos por uma onda que parecia conhecer mais a Deus. do que qualquer outra antes dela. O espiritual começou a ser o foco principal de todas os cultos e reuniões: oração em línguas, profecias, pessoas caindo, unções de todos os tipos (humanas, animais e vegetais), libertações com ou sem questionários, etc. O segredo para o sucesso era acrescentar o termo "profético" a qualquer atividade. Logo os sentimentos foram excluídos e começaram a ser taxados de maus. As igrejas diziam viver um avivamento, demonstrado por “moveres” do Espírito. Este era o avivamento final: o João Batista dos últimos tempos. O mundo “secular” foi esquecido, e com ele a atuação social da Igreja. Em minha opinião, o extremo dessa visão tornou a Igreja mais medíocre que nunca.

Agora surge uma nova era no meio da Igreja brasileira: o intelectualismo. Volta-se a dar crédito a intelectuais e reformadores do passado. Até os artistas famosos da “era espiritual” da Igreja parecem aderir à nova onda, onde mestres como C. S. Lewis, Francis Schaeffer, John Piper, Spurgeon, Chesterton e outros pensadores cristãos voltam à ativa influenciando milhares de mentes, principalmente jovens. A Igreja começa a rejeitar o secular/sagrado e se voltar a ação social. Estamos aprendendo a amar a Deus de todo o entendimento.

Eu estou muito satisfeito com este novo rumo que a Igreja no Brasil está tomando, porque se adapta mais ao meu estilo: adoro ler, escrever, etc. Porém a Verdade não está sujeita a estilos: é absoluta. Se não aprendermos a equilibrar, ou melhor dizendo, amar a Deus na plenitude de nossa força, coração, alma e entendimento logo virá uma nova revelação e muitos dos que hoje crêem vão ter suas mentes confundidas. Tomara que a Igreja aprenda a amar a Deus com todo seu entendimento, sem chegar a ser extremista, e una a isso todas as lições aprendidas nas outras épocas vividas pela Igreja brasileira, para que sejamos firmes e tenhamos firmeza no que cremos e apresentamos ao mundo.

Que a Igreja aprenda a amar a Deus!

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Sobre escandalos, profecias e individualidade.

Os escândalos sempre estiveram presentes na história cristã. Jesus alertou que seria inevitável que eles acontecessem, mas ai daquele que fizesse tropeçar a um dos pequeninos do Mestre. Por algum motivo, temos vivido uma série de escândalos no meio evangélico. Já são tantos que não sabemos mais qual codinome usar para expressar nossa fé. Se digo que sou evangélico, sou comparado a alguns pastores de igrejas que esqueceram que Jesus escolheu a pobreza e que não se cansam de tirar mais dinheiro do povo. Se digo que sou crente, sou comparado a pastores que acreditam que só seus membros irão pro céu, e por justiça própria; esqueceram-se daquele que nos salvou pela graça. Se digo que sou cristão, sou comparado à fé comum brasileira: milhares de católicos não-praticantes que se dizem cristãos, mas nem sabem mais quem é Jesus. (Perdão a todos aqueles membros fieis dessas igrejas).

Há pouco tempo atrás li sobre a revelação obscura e mal contada das farsas de Davi Silva. Se Deus permitiu que essa história viesse à tona foi para que seu povo aprendesse alguma coisa. Talvez tenhamos que aprender que não devemos aceitar qualquer “revelação” ou qualquer pastor que surge com alguma nova onda, doutrina, ou como queira chamar. Espero que o povo evangélico, cristão e crente aprenda que a duvida não é contrária a fé, mas aliada. A dúvida nos ajuda a buscar respostas e não julgar (para bem ou para mal) nenhuma pessoa. O que a Bíblia nos adverte a lutar contra se chama incredulidade, que é algo muito diferente da dúvida. Fico extremamente indignado com os enganadores que se valem da credulidade ignorante de milhares de pessoas para comprar para si novos carros, novas casas e vendem um evangelho sensacionalista, cheio de instrumentos de magia gospel e abracadabras evangélicos.

Mas há um vídeo que me causou um sentimento misto de ira e compaixão, talvez parecido, em proporções bem menores, àquele que motivou Jesus a destruir todo o mercantilismo que, como uma invasão do MST, tomou a casa onde Deus habitava. No vídeo, um homem chama pessoas por nome e sobrenome, revelando seu local de nascimento, nome de parentes, etc. Todas as informações dadas pelo pregador estavam no perfil do Orkut dos fieis “revelados”. Inclusive em alguns momentos o “profeta” se confunde por não ler corretamente a informação do perfil. Não bastasse, tudo isso ocorre em uma igreja em Londres, no continente menos evangelizado do planeta.

O que mais me marcou foi ver as pessoas chorando descontroladas enquanto o pregador revelava seu nome e sobrenome. Só Deus conhece as motivações, mas esses pobres fiéis que estavam sendo enganados refletiam um ar de sinceridade em seu semblante e em seu choro. Então, refletindo sobre o caso, me dei conta de algo que permeia o fato de as profecias pessoais terem se tornado tão frequentes e desesperadamente buscadas pelas igrejas de contexto pentecostal.

Não me sinto com autoridade para falar sobre o assunto profecia na igreja. Com certeza é um dom do Espírito, conforme Paulo em Coríntios, mas o papel das profecias pessoais na igreja atual deveria ser reconsiderado. O que quero comentar é o porquê desse tipo de profecia ter um lugar tão alto nas igrejas pentecostais hoje em dia, levando muitas vezes ao engano. Como um parêntese, gostaria de comentar que a Bíblia nos recomenda que “não desprezemos a profecia”, porém não nos fala para a aceitarmos sem antes ser provada, analisada à luz da palavra. Nós devemos ter um relacionamento pessoal com o Senhor, o que significa, por definição, que falamos entre nós. Ou você gostaria que alguém lhe desse um recado mandado pelo seu cônjuge após um dia inteiro estando com ele? Obviamente, a profecia cumpre diversos outros papeis na vida da igreja.

Quando pensamos em profecia acreditamos que o “sucesso” delas na igreja de hoje se deve ao fato de todos ansiarem por saber seu futuro. Com certeza este é um dos pontos, mas acredito que não seja o mais relevante. Vendo esse vídeo me dei conta de que todo o ser humano que busca a Deus necessita saber que é conhecido por Ele. Todos nós queremos saber que Deus conhece o nosso nome, o nosso sobrenome, nossos parentes, nossos problemas pessoais, a placa de nosso carro, a hora que saímos de casa, nosso hobby, nosso sabor de pizza favorito. A profecia nos dá a sensação de sermos únicos, importantes. Que Deus conhece nossa intimidade.

Logo que vi o vídeo, mostrei-o a meu amigo Isaac, que prontamente me respondeu com uma citação de Martim Lutero: “Fiz uma aliança com Deus: que Ele não me mande visões, nem sonhos, nem mesmo anjos. Estou satisfeito com o dom das Escrituras Sagradas, que me dão instrução abundante e tudo o que preciso conhecer tanto para esta vida quanto para o que há de vir.” Ela vale muito bem para esta situação. A Bíblia nos fala, repetidamente, que o Senhor conhece nosso nome (Êxodo 33:17), conhece a hora que saímos e chegamos a casa, a hora que acordamos e dormimos (Salmo 139). Deus se importa com quem vamos nos casar, com nossos amigos, com as coisas que nos preocupam. Ele conhece nossos gostos: fica alegre quando nós comemos nossa comida favorita. Ele se preocupa, ou melhor, entra em ação quando nos machucamos ou quando estamos nervosos para uma prova. Ele nos oferece um colo quando tudo vai mal e a única coisa que podemos fazer é dormir. Tudo isso está na Bíblia, ninguém precisa lhe dizer, porque o Senhor deixou escrito a milhares de anos atrás, porque ele sabia que eu e você precisavamos saber isso.

Deus não nos fez todos iguais porque ama a individualidade (não confunda com individualismo). E se ele ama a individualidade, ele ama os detalhes que nos fazem únicos. Feche seus olhos por um momento, acalme seu coração e escute em seu espírito o quanto Ele se importa com seus detalhes!




"Eu tenho um Criador. Ele formou meu coração mesmo antes de tudo começar. Minha vida estava em Suas Mãos. Eu tenho um Pai. Ele me chama de seu. Ele nunca vai me deixar, não importa onde eu vá. Ele sabe meu nome. Ele sabe todo meu pensamento. Ele vê cada lágrima que cai. E me ouve quando eu chamo".

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Voltando à Casa


“Se eu de ti me esquecer, ó Jerusalém, que se resseque a minha mão direita. Apegue-se-me a língua ao paladar se me não lembrar de ti, se não preferir eu Jerusalém à minha maior alegria.” (Salmo 137:5-6)

Dei uma pausa entre os últimos trabalhos da faculdade para escrever sobre algo que realmente gosto: a Bíblia. Algum comentário anônimo aqui no blog dizia que eu deveria parar de tentar interpretar a Bíblia. Mas se esse livro sagrado foi feito para ser interpretado, por que parar? Há coisas que são claras na Bíblia, como por exemplo: “não matarás”. Está claro que matar é errado. Mas há outras coisas que não são tão claras. Mas por que Deus não nos deixou sua palavra bem clara e específica? Porque seu interesse é que batalhemos por conhecê-lo, por interpretar sua palavra, por saber o que é correto e o que não é. Como dizia A. W. Tozer: “Deus fala com quem tem interesse”. Portanto, para minha alegria e tristeza de alguns, sigo tentando interpretar a Bíblia.


Essa passagem citada no começo do post é muito poética. O Salmo 137 mostra a saudade que os judeus, exilados na Babilônia, sentiam por sua terra natal. E, por coincidência ou não, pensei neste post quando estava viajando para longe da minha terra natal. Foi balançando dentro de um ônibus a caminho de Passo Fundo para mais um fim de semana com minha namorada que, por um instante, voltei minha atenção à letra de uma música do Matisyahu que tocava no meu MP3, chamada Jerusalém. O refrão da música cita o versículo do Salmo 137.

Não era o primeiro exílio dos judeus. Primeiro havia sido o Egito e, depois de terem experimentado a Terra Prometida, o povo é levado à Babilônia. Deus havia deixado bem claro que o exílio era fruto da rebeldia do povo de Israel: por terem voltado às costas a Deus, eles seriam levados de Canaã, a terra que manava leite e mel. A história de Israel narra outros exílios ou cativeiros sob o domínio de outros povos. Os judeus foram dominados pelos egípcios, babilônicos, persas, romanos, etc. E sempre que estavam vivendo sob esse domínio lembravam-se de sua terra natal. Ansiavam voltar para essa terra distante que saciava suas necessidades e desejos. E ansiavam pela liberdade. Ansiavam por estar onde junto ao Templo, onde Deus "habitava".


A história do povo de Israel não é nada mais que uma metáfora da história humana. Adão nasceu no Éden, viveu ali, esteve com Deus e isto lhe saciava todas as suas necessidades. Mas quando decidiu voltar às costas a Deus, pecando, foi exilado: passou a viver longe de sua terra natal e também a ser dominado pela sua carne e, conseqüentemente, pelo diabo. Assim, viveu exilado, até que Jesus nos trouxe a autorização e o mapa para voltar à Terra Prometida.


O ser humano sofre de saudades de sua terra natal, mas algumas vezes nem a percebe. Aqueles que não creram em Jesus ainda vivem exilados. Os que já creram estão na peregrinação de volta à casa.


Mas é muito importante que aqueles que já estão no caminho de volta à casa que não percam Jerusalém, ou como a Bíblia chama no Novo Testamento, a Nova Jerusalém de vista. Se não olharmos para Jerusalém podemos nos adaptar a vida do exílio e tentar calar aquelas vozes que nos dizem repetidamente que este lugar não é suficiente para nós. A esperança no céu é algo que não se prega muito nas igrejas, mas deveria ser a grande motivação do povo de Deus. É lá onde teremos nossa recompensa, onde não haverá mais choro, onde reside o nosso Deus, onde todos os dias serão domingo! Aliás, o shabbat, ou seja, o dia de descanso na Bíblia, se refere ao céu. Quer dizer, no céu todos os dias serão dias de descanso! Descanso para nossa alma, para nossa mente, para nosso espírito. Descanso para todos os sofrimentos que passamos nesta terra. Todos os dias serão domingo!


Como diz o salmista no final do verso 6, devemos preferir Jerusalém à nossa maior alegria nesta terra, porque nenhum sentimento terreno se compara à alegria da Nova Jerusalém. Que se nos resseque a mão direita, sinal de poder na Bíblia, se nos esquecermos da Nova Jerusalém. Que se nos acabe o poder para que vejamos que aqui só vivemos exilados, que não somos feitos para este lugar.


Acredito que haverá um tempo em que não haverá choro em enterros de cristãos, apenas algumas lágrimas de emoção ou saudades. Nova Jerusalém tem que estar impregnada em nossa mente, no nosso espírito, no nosso dia-a-dia.


http://www.youtube.com/watch?v=3-C74ovvhwY

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Deus tem pressa! Ou não...



O tempo de Deus. Esta questão é talvez a que mais ronde a cabeça dos cristãos, principalmente os jovens. Muitas vezes escuto pregadores dizendo: Deus tem pressa! Outros dizem: espere em Deus! Afinal, as “coisas” de Deus são rápidas ou são lentas?

Falando em tempo: sinto falta dele. Estou escrevendo enquanto a janta aquece no microondas, depois de ter voltado da faculdade. Com o trabalho e seis cadeiras da faculdade tenho sentindo falta de um tempo ocioso, aquele que você dá de presente à sua mente para que ela descanse totalmente. Apesar de ocupar essas intermináveis horas diárias, ainda assim não vejo um sentido claro em tudo isso. Quando o tempo de viver o que eu sei que Deus tem planejado pra mim vai chegar? Deus tem pressa em fazer isso? Deus quer que eu espere?

A Bíblia diz em Êxodo 12:17 que o Senhor libertou o povo do Egito, mas não deixou que os israelitas tomassem o caminho mais curto. O povo ainda era imaturo (e, na verdade, essa geração que morreu no deserto nunca deixou de ser), e se visse a guerra nesse caminho curto se arrependeria e voltaria para o Egito. Deus não gosta de caminhos curtos? Na verdade Deus não gosta de caminhos que possam significar tropeços para nossa salvação. Ele concentra seus esforços em nós manter de pé e nunca nos deixará trilhar um caminho em que nossa imaturidade possa nos fazer cair.

Até aí chegamos à conclusão que o caminho mais longo quase sempre é a escolha de Deus para nós, o que, por conseqüência, nos diz que as “coisas” de Deus (perdão pelo vocabulário crentês) são lentas.

O caminho do deserto foi o caminho que Deus escolheu para os israelitas cruzarem. Se Deus mostrasse as duas opções e dissesse aos israelitas que escolhessem, tenho certeza que eles escolheriam o caminho mais curto crendo em si mesmos, na firmeza da sua crença em Javé. Por isso Deus não fez um plebiscito ou uma votação. Ele conhece nossos limites, nós não. Ele conhece nossas reações frente às diversas situações. Nós não. Eu não.

Chegamos à conclusão que Deus é “lento” por nossa culpa. É uma conclusão aceitável, porém não totalmente verdadeira. O versículo 21 diz o seguinte: “O Senhor ia adiante deles, durante o dia, numa coluna de nuvem, para os guiar pelo caminho; durante a noite, numa coluna de fogo, para os alumiar, a fim de que caminhassem de dia e de noite.” Que surpresa! O Deus que parecia lento não deixava que os israelitas parassem nem de dia nem de noite. Apesar de o Senhor escolher o caminho mais longo e aparentemente lento, Ele provia todas as condições necessárias para que os israelitas percorressem esse caminho da maneira mais rápida possível.

Conclusão: Deus é efetivo. Dizer que Deus tem pressa é um erro, porque eu acredito que realmente a pressa é inimiga da perfeição. Pessoas com pressa podem saltar etapas a fim de cumprir um propósito rapidamente. Deus, no que diz respeito à nossa vida, não salta etapas, mas nos dá condições de cumprir essas etapas de maneira efetiva, sem perder tempo.

Não se preocupe se você está seguindo o caminho mais longo. Apesar disso, você está caminhando o mais rápido possível. Logo, logo a Terra Prometida estará à sua vista.

Ah, e Deus sempre tem um tempo de descanso reservado para nós enquanto caminhamos nesses desertos. Glória a Deus pelos feriados!

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Santidade ao Senhor


Já fiz parte de várias igrejas e denominações. Algumas foram até demasiadamente enfáticas com relação à santidade. Já ouvi comentários como: “com cada pessoa que você ficar, são dois anos a mais que você tem que esperar seu namorado (a)”. É mais ou menos como a história do bicho-papão que nós ouvimos na nossa infância. Muitas vezes, em minha adolescência, subi as escadas do altar sob a ameaça de que, se eu estivesse em pecado, poderia morrer ao tocar o Altar do Senhor.

Exageros? Com certeza. Mas você vai presenciar fatos parecidos em muitas igrejas evangélicas (uma definição melhor seria fundamentalistas) do mundo afora. Sem contar o medo aterrador de que alguém da igreja receba uma revelação sobre o seu pecado e te exponha em frente a todos. Ou eu sou o único que já sofreu com essas coisas?

Infelizmente tenho visto muitas pessoas dessas igrejas com seus casamentos destruídos, meninas grávidas, gente longe de Deus. Creio que o motivo principal está no fato de essas pessoas não conseguirem atingir o nível que a igreja propunha (ou impunha). Sendo assim, se sentiam não-aceitos por Deus. Afinal, se Deus os rejeitou, então nada mais justo do que seguir seus próprios prazeres.

Eu trabalho na secretaria da igreja, e muitas vezes atendo alguns mendigos que vem pedir dinheiro, comida ou uma Bíblia. Conversando com um deles, insisti para que ele conhecesse a igreja, viesse a um dos cultos semanais. Sua resposta foi a seguinte: “Vou acertar minha vida e depois venho”. Eu logo respondi que a igreja o ajudaria a acertar sua vida. Mas fiquei pensando durante aquele dia inteiro sobre como a igreja é elitista. Nós somente aceitamos pessoas que demonstram uma vida pura, íntegra e madura. Onde foi parar a visão da Caverna de Adulão, ou dos publicanos e pecadores? A igreja, muitas vezes, se torna o lugar onde temos que mostrar perfeição para ser aceitos, e não o lugar onde somos aceitos para chegar à perfeição.

A causa de tudo isso, creio eu, é uma das piores manifestações do orgulho: a justiça própria. Ela é, talvez, a pior inimiga da cruz de Cristo. Ela motivava os cristãos do primeiro século a continuarem seguindo a Lei, fato esse que consumiu muita energia das pregações do Apóstolo Paulo. Ela costuma usar o disfarce de santidade, na mesma medida que o diabo usa sua fantasia de anjo de luz.

Acho importante definir a diferença entre justiça própria e santidade. Em minha humilde e leiga opinião, acredito que a justiça própria se baseia no próprio indivíduo, enquanto a santidade se baseia no próximo. Hebreus 12:14 diz: “Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá ao Senhor.” Perceba que a Bíblia coloca a relação inter-pessoal antes da santificação. E assim é em todo o Novo Testamento. Tudo se resume em amar a Deus acima de todas as coisas e ao nosso próximo como a nós mesmos. Isso é santidade. Ponto.

Santidade, portanto, são todos os atos que pratico baseado no amor pelo meu próximo e a Deus. Justiça própria são os mesmos atos, mas sem essa motivação. Disso a igreja está cheia! Essa falsa santidade tem sido na igreja como os cursos de pós-graduação tem sido no mundo: um caminho para conseguir um cargo maior.

Desde sempre ouvi que santidade significa separação. Mas separação do que? Do mundo, obviamente. A justiça própria não nos separa do mundo, mas nos aproxima, pelo fato de que o orgulho é a substância que nos faz mais parecidos com o mundo. Outra diferenciação muito clara: a justiça própria impõe, enquanto a santidade compreende e auxilia em amor.

Se nós soubéssemos o que é amar, noventa por cento dos problemas da igreja estariam resolvidos. Os outros dez por cento seriam a perseguição externa. O evangelho é muito claro em dizer que devemos preferir o outro a nós mesmos, então porque não vivemos isso?

As igrejas estão supervalorizando a santidade e esquecendo-se do amor ao próximo, das relações interpessoais. Isso está gerando indivíduos legalistas, que vivem a disciplina das boas obras, mas que não olham na cara do irmão da própria igreja. Sinceramente, estou muito cansado dessa realidade!

Sonho em ter uma igreja voltada para pessoas não-perfeitas e com problemas. Só assim me vejo preparado para assumir um cargo de liderança.




P.S.: Santidade não tem nada a ver com o exterior.

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Quanto custa o amor?

Este blog nunca esteve tão abandonado. Consequência da inspiração, que me abandonou sem informar o seu destino. Na verdade acho que ela ocupa em mim o mesmo lugar da preocupação e da frustração. Por conseguinte, não consegui comportar as três ao mesmo tempo nesse começo do ano. As preocupações com o futuro, as frustrações pessoais e externas que teimam em me visitar todos os dias, a saudades da namorada, a saúde debilitada, etc.

Mas acho que por um momento virei o jogo. As mesmas coisas que pareciam ter afastado a inspiração, que é o motor desse blog, se juntaram para motivar a sua volta. E é nesse clima de apática melancolia que começo mais um post, depois de muito tempo.

Não sou muito adepto de postagens muito pessoais. Quem acompanha o blog deve ter percebido, mas este é um pouco atípico.

Como um perfeccionista crônico, tenho como companheira a frustração. Quando se estabelece padrões muito altos, muitas vezes na tentativa de alcançá-los, tropeçamos em algum degrau e caímos no buraco da frustração. Isso acontece constantemente comigo. E isso afeta violentamente minha relação com Deus. Bom, esse fato eu já havia constatado a tempo, mas o abandono do perfeccionismo tem sido, talvez, a escada mais alta que eu planejo subir e considero estar bem longe de alcançar seu final.

O perfeccionismo traz consigo uma faceta aparentemente boa, mas ilusória. O indivíduo perfeccionista normalmente consegue alcançar bons resultados, contando assim com a aceitação externa. Aliás, a motivação do perfeccionismo é a aceitação externa. Se eu deixar de ser perfeccionista não terei resultados tão bons e, conseqüentemente, perderei a aceitação de muitas pessoas. É um jogo que consome a saúde do indivíduo em busca de uma vida sem erros. É assim que tenho vivido, muitas vezes. Quanto custa o amor e a aceitação das pessoas que amamos? Quanto custa o amor de Deus?

Lembrei de Pedro, o discípulo de Jesus. Ele, aparentemente, não era perfeccionista. Pedro era sanguineo (conforme a teoria das personalidades de Hipócrates), daqueles que agem por impulso, que não tem freio nenhum entre o cérebro e a boca. Eu sou, declaradamente, um melancólico, mas me senti muito parecido com Pedro.

Acho que nunca foi feita tal estatística, mas creio que a cada dez palavras dos discípulos direcionadas a Jesus, oito eram de Pedro. Pedro adorava mostrar a Jesus sua segurança, determinação, capacidade de liderança, etc. O único problema é que, na verdade, eram todos adjetivos falsos em relação a esse discípulo. Pedro era só um seguidor cheio de mazelas emocionais tentando ganhar a aceitação de Jesus. O Mestre poderia pregar sobre seu amor infinito, sua graça, sua aceitação a todos, mas Pedro achava que precisava fazer sua parte. Essa história de ser aceito sem ter que fazer nada não pode ser verdadeira, pelo menos não na cabeça de Pedro. Suas ações e palavras estavam tentando sempre comprar um pouquinho da aceitação e do amor divinos.

Alguma semelhança entre você e Pedro? São inúmeras as vezes que eu tento comprar o amor de Deus: seja indo na igreja, servindo, fazendo atos de justiça própria, ou como seja. E, creio eu, a igreja está cheia de gente assim, que acredita que precisam fazer de tudo para serem aceitos por Deus. Ir à igreja, buscar a santificação, servir no corpo de Cristo é errado, então? De forma nenhuma. Mas isso é conseqüência do amor dele por nós, e não a maneira com que vamos fazer que ele nos ame. Nós, muitas vezes, nos parecemos às religiões mais primitivas, que adoram a um deus para aplacar sua ira. Às vezes penso nas minhas motivações e tenho vontade de caminhar até o altar novamente e aceitar a Jesus de novo.

Você lembra como foi o tratamento de Pedro? Negando a Jesus. O homem que, durante três anos, tentou ser aceito pelo Rei dos Judeus cometeu um erro imperdoável: negou a seu Mestre. Jogou três anos de esforço fora em apenas algumas horas.

Alguns dias depois do ocorrido Jesus se reencontra com Pedro e pergunta se Pedro o amava. Em sua pergunta, Jesus utiliza o verbo agapao, que em grego dá a ideia de um amor incondicional. Pedro, em sua resposta, utiliza o verbo philia, que denota um amor de amigos, menos intenso que agape (ou agapao). Finalmente Pedro reconhece suas limitações. Reconhece que ele não é nem mesmo capaz de amar a Jesus da forma como deveria. Finalmente ele não tenta comprar o amor de Jesus com seu esforço, porque percebe que seu esforço sempre será em vão. Surpreendentemente Jesus responde a Pedro: Apascenta minhas ovelhas. Ou seja, mostra a Pedro que, apesar de tudo, ele é aceito não só por Deus, mas ainda conta com a confiança de Deus para realizar sua obra. Quando Pedro falhou e desistiu ele, finalmente, se sentiu aceito.

Será que nós teremos que falhar como Pedro para que nossos olhos vejam que nada do que fizermos nos fará mais aceitos aos olhos de Deus? Quanto tempo vai demorar para que percebamos que já somos 100% aceitos, sem termos que fazer nada?

Quanto custa o amor de Deus? Nada. Isso é o que chamamos de graça.

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Virgem Maria!


Mais um ano se inicia. Há algumas semanas, vinha refletindo sobre um post para o ano novo, mas a intenção de postar alguma coisa antes da virada não se concretizou. Agora, tenho mais um ano para pensar sobre um texto de réveillon. Na verdade, dificilmente escolho um tema para as postagens. Seria muita pretensão minha dizer que os temas me escolhem, mas é alguma coisa parecida com isso. É quase como um assunto tomando conta de você de tal maneira que precisa ser expressado em caracteres.

Pois bem, estou agora na praia e, passeando na casa da minha avó, me deparei com uma revista “Seleções”, datada de 2006. O título da matéria de capa saltou aos meus olhos: “Como o brasileiro vê Deus”. Entre muitos comentários sobre o sincretismo religioso tupiniquim, estatísticas interessantes sobre o ateísmo quase ausente (95% dos nossos conterrâneos acreditam em Deus) e as crenças simplórias dos brasileiros, encontrei uma matéria sobre Maria, mãe de Jesus. Maria, mãe de Jesus. Conhecida também como Nossa Senhora, podendo ainda conter infinitos acréscimos como Aparecida, Guadalupe, Navegantes, etc... Mas todas elas se referem à mãe de Jesus, acho.

Os evangelhos bíblicos são muito vagos em relação a Maria. Eles a descrevem claramente como uma mulher bem-aventurada e de reta conduta que foi escolhida para ser a mãe de Jesus, abriga-lo em seu útero. Nada além disso. Nas passagens subseqüentes, Maria aparece apenas como um personagem a mais nas histórias dos evangelhos. Toda a história mística a respeito de Maria vem de um livro apócrifo do segundo século depois de Cristo, nomeado de proto-evangelho de Tiago. Ali, o escritor descreve o nascimento profético de Maria. Além disso, declara Maria como predestinada para ser virgem durante toda a sua vida, casando-se com um viúvo chamado José que já possuía filhos. Então, aos 16 anos Maria dá à luz Jesus numa caverna, posteriormente o escondendo da maldade de Herodes numa manjedoura.

A Igreja, não obstante este apócrifo, nunca havia dado muita atenção à Virgem. Até que no século XII, Bernardo de Claraval, um abade francês, proclamou que Maria intercedia pelos humanos junto a Jesus, e que todas as graças concedidas aos homens só chegavam por seu intermédio. Alguns católicos não aceitaram a ideia, pelo fato da posição de Maria haver se tornado totalmente anti-bíblica. Mas essa nova posição da Mãe de Jesus se popularizou. Já alguns anos depois, diversas supostas aparições de Maria a tornaram ainda mais popular. Inclusive, foram aceitos fatos como a Imaculada Conceição de Maria, ou seja, ela teria nascido livre do pecado original e a Ascensão, que diz que a Virgem não morreu, mas ascendeu aos céus. Muito bem, até o momento analisamos apenas os fatos que levaram à idolatria de Maria. Mas o mais interessante são as explicações do que levou a adoração a Maria se tornar tão popular.

Uma explicação junguiana (adeptos das ideias de Carl Jung – fundador da psicologia analítica) nos diz que a figura de Maria nada mais é do que uma tipologia de deusa, tão comum na religiosidade antiga. Nossa Senhora então não seria nada mais que uma “substituta” de Ísis, Deméter, e outras, na mentalidade coletiva. Já os freudianos defendem que Maria tem proeminência nas sociedades em que os lares sofrem com a ausência paterna. Seria muito mais fácil associar Deus amoroso e acolhedor a uma imagem feminina. Também, inconscientemente, afirmam os freudianos, a devoção a Maria ajudaria o indivíduo a satisfazer os desejos da própria mãe. De fato, a explicação mais cabível é o fato de que características maternas de Deus como o amor e a compaixão se encaixam mais numa figura feminina. A ideia junguiana é facilmente rebatida biblicamente. Encontramos no livro de Jeremias a adoração a uma deusa, chamada de Rainha dos Céus. Ali, no capítulo 44 deste livro, Deus condena a adoração a essa deusa, assim como condena a adoração a qualquer outro Deus que não seja Ele. Não é um caso de egoísmo divino, mas sim, de proteção contra qualquer crença que possa levar o homem a se decepcionar.

Mas, com certeza, o que mais me chamou a atenção foi a explicação dos seguidores de Freud. Creio que não há sociedade alguma, no contexto contemporâneo, que não sofra com a ausência paterna. Sem contar que, na maioria das vezes, os pais presentes não estão muito inclinados a demonstrarem o caráter de Deus. Assim, se torna cada vez mais complicado chamarmos Deus de Pai. Pai: este é o nome de Deus que Jesus nos deu a conhecer. João 17:26 nos diz: “Eu lhes fiz conhecer o teu nome e ainda o farei conhecer”. No Antigo Testamento o nome usado para designar a Deus era “Eu Sou” (Javé) ou “Todo-Poderoso” (Elohim), mas a partir do Novo Testamento Deus é conhecido por Pai. Isso mostra a proximidade que a humanidade passa a ter com Deus a partir da morte e ressurreição de Jesus.

São diversos os motivos que vejo para que Deus se desse a conhecer por Pai. Na verdade creio que, se houvesse uma palavra para designar pai e mãe ao mesmo tempo Deus se daria a conhecer por esse nome. Creio que o nome Pai, apesar de se tratar da parte masculina dos nossos progenitores, engloba também o sentido materno. De fato, Deus é comparado com uma mãe em diversos textos. Isaías 66:13 nos diz que Deus consolaria a Israel como alguém é consolado por sua mãe. Isaías 49:15 nos promete que, ainda que a mãe esqueça do filho do seu ventre, o Senhor não esqueceria de seus filhos. Em Mateus 23:37, Jesus compara o Senhor a uma galinha, que quer recolher seus pintinhos debaixo de suas asas. Poderia haver uma comparação mais maternal que essa? Sexo, enquanto gênero, é algo totalmente humano. Deus não é homem e não é mulher. Eu creio que tudo nessa terra é uma sombra da realidade espiritual. Algumas coisas de forma mais intensa, outras de forma mais imperceptível. Creio que, na verdade, o homem, o pai, expressa a força de Deus, a coragem, a proteção, a racionalidade de Deus. Já a mulher, a mãe, expressa a beleza, a sensibilidade, a emoção divina. Em Deus encontramos as características mais notáveis dos dois sexos, unidos em um ser só. Sendo assim, qual a necessidade de uma deusa? As teólogas feministas que defendem o papel de Maria como uma deusa, ou semi-deusa, na verdade estão totalmente perdidas na realidade bíblica e divina. Deus não pode ser machista, por não ser homem. Não pode ser feminista, por não ser mulher. Ele apenas define o papel de cada um dos gêneros para que vivam de acordo com a funcionalidade com que foram criados.

Quando penso sobre a personalidade divina, creio que nEle estão contidas as melhores qualidades da minha mãe e também de meu pai. Em Deus encontro o aconchegante e seguro colo da minha mãe, mas também nEle encontro o super-heroi que meu pai sempre será para mim. Deus sabia que a ausência paterna seria um mal sempre presente, principalmente na sociedade contemporânea. Talvez esse seja um dos principais motivos dele escolher o gênero masculino como representação de sua personalidade. Ora, se minha necessidade é ter um pai, Deus está ali para que eu encontre nEle o Pai que nunca tive. Mas isso não faz com que sua personalidade seja masculina e, assim, precisemos de um ser com características femininas para ser adorado.

Deus é completo. O ser humano criou a imagem de Maria por não ver claramente Aquele que criou a mãe de Jesus. Aquele que é nosso Pai. Aquele que é nossa Mãe.

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