“Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças.” (Marcos 12:30)


Freqüento igrejas evangélicas desde que nasci. Fui batizado uma vez quando criança na Igreja Luterana, fiz a confirmação de meu batismo aos doze anos na mesma igreja, fui batizado mais uma vez, agora por imersão, em uma igreja neo-pentecostal. Participei de encontros, pós-encontros, pré-encontros, igrejas com visão de G12, etc. Além disso, freqüentei igrejas em outro país e conheci crentes das mais diversas regiões do mundo e pertencentes aos mais diversos braços da cultura evangélica. Confesso que essa longa jornada, não apenas visitando, mas freqüentando muitas igrejas em muitos lugares, deu-me uma visão bastante ampla do círculo evangélico.

Foi uma grande luta manter-se firme passando por diversos lugares e diversas épocas, visões e modismos das igrejas evangélicas, principalmente vendo tantos amigos que estavam totalmente imersos em modismos e “paixões” desistindo da fé. Cada vez mais aumenta o número de apóstatas do século XXI, que não conseguem permanecer firmes nas igrejas que mudam tanto de visão. O problema é que a igreja evangélica recebe revelações boas e saudáveis, mas as leva a extremos, fazendo com que a revelação acabe perdendo sua validade.

Para combater os extremos surge uma revelação nova, totalmente contrária à antiga. Logo essa também se torna extremista e perde sua razão. Esse modus operandis não é privilégio da Igreja brasileira. A literatura já mostrava essa tendência humana de se contrapor a visões buscando outro extremo. Por exemplo, nos períodos literários brasileiros encontramos logo após o Romantismo, o Realismo – duas correntes totalmente contrárias, e assim com outros períodos.

A Igreja no Brasil começou demonstrando seu amor a Deus com todas suas forças. Diversos missionários europeus e norte-americanos entregaram suas vidas com o objetivo de evangelizar o país e fazer do protestantismo o que ele é hoje no Brasil. O movimento missionário influenciava muita gente e até houve alguns mártires em solo tupiniquim.

Já quando me lembro de minha infância, no que se refere a minha experiência, recordo-me de uma igreja que amava a Deus de todo o seu coração. O foco principal eram os sentimentos. As músicas, como sempre retratando a cosmovisão de uma cultura, eram bem emocionais e muito tocantes. Apesar de algumas correntes de hoje dizerem que as emoções são más, a maioria das pessoas que conheço e estão firmes hoje na igreja tiveram sua experiência de conversão nessa época, inclusive eu.

Logo começaram a surgir movimentos que ressaltavam o espiritual, amando a Deus com toda sua alma. Muitos, inclusive eu, foram seduzidos por uma onda que parecia conhecer mais a Deus. do que qualquer outra antes dela. O espiritual começou a ser o foco principal de todas os cultos e reuniões: oração em línguas, profecias, pessoas caindo, unções de todos os tipos (humanas, animais e vegetais), libertações com ou sem questionários, etc. O segredo para o sucesso era acrescentar o termo "profético" a qualquer atividade. Logo os sentimentos foram excluídos e começaram a ser taxados de maus. As igrejas diziam viver um avivamento, demonstrado por “moveres” do Espírito. Este era o avivamento final: o João Batista dos últimos tempos. O mundo “secular” foi esquecido, e com ele a atuação social da Igreja. Em minha opinião, o extremo dessa visão tornou a Igreja mais medíocre que nunca.

Agora surge uma nova era no meio da Igreja brasileira: o intelectualismo. Volta-se a dar crédito a intelectuais e reformadores do passado. Até os artistas famosos da “era espiritual” da Igreja parecem aderir à nova onda, onde mestres como C. S. Lewis, Francis Schaeffer, John Piper, Spurgeon, Chesterton e outros pensadores cristãos voltam à ativa influenciando milhares de mentes, principalmente jovens. A Igreja começa a rejeitar o secular/sagrado e se voltar a ação social. Estamos aprendendo a amar a Deus de todo o entendimento.

Eu estou muito satisfeito com este novo rumo que a Igreja no Brasil está tomando, porque se adapta mais ao meu estilo: adoro ler, escrever, etc. Porém a Verdade não está sujeita a estilos: é absoluta. Se não aprendermos a equilibrar, ou melhor dizendo, amar a Deus na plenitude de nossa força, coração, alma e entendimento logo virá uma nova revelação e muitos dos que hoje crêem vão ter suas mentes confundidas. Tomara que a Igreja aprenda a amar a Deus com todo seu entendimento, sem chegar a ser extremista, e una a isso todas as lições aprendidas nas outras épocas vividas pela Igreja brasileira, para que sejamos firmes e tenhamos firmeza no que cremos e apresentamos ao mundo.

Que a Igreja aprenda a amar a Deus!

7 Responses so far.

  1. Grasi says:

    nossas indagações de cada dia...rsrs
    Uma coisa eu espero de coraçao, que não entremos numa "onda"de intelectualismo e acabemos como os Europeus...Equilibrio é a palavra chave!
    Abraços!

  2. Excelente reflexão!

    Abraços,

    Roberta

  3. Unknown says:

    Sempre sera assim! Desculpa meu pessimismo!

    O Apostolo Paulo ja falava daqueles que negociavam o evangelho, daqueles que se isolavam do mundo, dos imorais!
    A historia infelizmente se repete!

    Espero que nao estejamos vivendo um periodo neo-escolastico humanista!

    Que se for equilibrado trara beneficios, mas nunca sera!

    paz!

  4. Gerson says:

    Em meio a questionamentos que faço referente a esse assunto aí e não acho respostas, sempre me apego no versículo de Marcos 12:30. Valeu por escrever Samuel, muito legal o texto, nós agradecemos! Abraço, Gérson

  5. Gerson says:

    Isaac, tu não estas sendo pessímista, e sim realista. Fica na boa hehehe!

  6. Fran Atkinson says:

    "O mundo “secular” foi esquecido, e com ele a atuação social da Igreja"....
    Os cristãos andaram muito alienados nos últimos tempos...fico feliz que estamos voltando a dar importância ao conhecimento "humano", ele é necessário para a obra de Deus nesse mundo cada vez mais globalizado...devemos influenciar na sociedade, e não fingir que nao fizemos parte dela, na desculpa que não fizemnos parte desse mundo...esse não é o Amor que Jesus pregou...
    O Reino não é apenas a Salvação, esta é essencial, mas como o Reino pode ser completo onde há fome, doença,desigualdade, guerra,e volência???
    Temos que fazer a diferença de verdade...

    Parabéns pelo Blog Samuel!!!

  7. Anônimo says:

    Caro colega de teologia, muito profunda sua reflexão, mas.....
    O que interessa mesmo é amar pessoas, desejar com o coração ardente amá-las sem condição, simplesmente amar. Sair da zona de conforto e por em prática o que lemos, escrevemos e pensamos. Isso me faz lembrar de ICor 13-Se eu não tiver amor nada serei.....
    Não sou contra o Logos, pois eu mesma estou buscando o Logos, para que não me enganem mais com fábulas, mas quanto mais eu estudo, mais vejo e aprendo que o que vale é o que Jesus pregou,amor
    Ágape. Sair do conforto, ainda que com medo de perder tudo, lutar contra a preguiça de que Deus fará tudo, eu só preciso me largar nos braços Dele(que às vezes são os braços de nosso sofá mesmo, para ler ou assistir TV).Precisamos olhar menos para nós e buscarmos sacudir as pessoas, como sendo intelectuais também, mas um abraço, e um carinho em quem já não tem tempo para fazer isso, vale muito mais........Te amo filho

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