Desde cedo no cristianismo e mais intensamente após o século XVI com a Reforma, os modelos de governo da Igreja têm sido amplamente discutidos e testados. O evangelicalismo recente trouxe novos modelos, que muitas vezes declaram ser absolutos, como o G12 (e todas as outras siglas de números e letras derivadas dele), as igrejas apostólicas, etc. 

Eu cresci em uma igreja protestante onde o presbitério, ou seja, um grupo de líderes eleitos pela congregação, possuía maior autoridade que o pastor, podendo até mesmo demiti-lo. Já participei de outras igrejas onde o presbitério estava abaixo da autoridade pastoral. Outras ainda, de teor neopentecostal, onde o pastor tem a palavra suprema, seja em questões de fé e prática ou administração eclesiástica. Nessa infinitude de visões, ainda podemos contar a complexa estruturação da Igreja Católica Apostólica Romana e seus padres, bispos, arcebispos, magistério, papa, etc., e uma das mais recentes formas de organização: a tendência moderna das igrejas caseiras que, afirmando sua semelhança com a igreja primitiva, proclamam que não deve haver um líder, mas somente pessoas que se reúnem para adorar a Deus. 

Mas qual será a maneira correta de organizar uma igreja? Quem deve ser o líder supremo da congregação? A igreja necessita de apóstolos, profetas, mestres, evangelistas e pastores para ser completa? Uma igreja sem G12, Encontro, Pré-Encontro, Pós-Encontro, pode dar certo? 

Essas são perguntas complicadas de responder e até hoje não se chegou a uma resposta. Quero, porém, dar uma opinião que talvez possa servir de guia para a nossa maneira de ver e de executar a Igreja, enquanto instituição. É uma opinião baseada na Bíblia e não na experiência, o que pode fazer com que ela seja um pouco “crua”. Também seria importante antes de tratar desse assunto, buscar entender a missão da Igreja. Mas vou tentar alcançar o máximo que minha inexperiência permitir. 

A IGREJA PRIMITIVA 

Muitas vezes nós olhamos para a Igreja Primitiva (a igreja pós-ressurreição de Cristo) e enxergamos nela o modelo perfeito. A igreja dos primeiros apóstolos se torna, muitas vezes, o padrão de medida de qualquer outra reunião de uma comunidade cristã. Obviamente, quando olhamos a partir dessa ótica não consideramos textos como o de Gálatas 2:11-21, ou o fato da dividida igreja de Coríntios também pertencer ao que chamamos de “Igreja Primitiva”. 

Muitos consideram que o início da comunidade cristã deva ser imitado hoje: reunião em casas, com uma liderança praticamente informal. Mas não pensamos que talvez o único motivo para reunir-se em casas era o fato de que era impossível aos cristãos, pertencendo a uma religião não-reconhecida, manter um local apropriado para culto. Tenho certeza que, se houvesse possibilidade financeira e legal, os primeiros fiéis teriam diversas sinagogas cristãs. Aliás, até meados dos anos 70 d.C. os cristãos ainda eram considerados e se consideravam judeus, sendo apenas uma seita a mais, como os fariseus, os saduceus e os essênios. 

No início, a igreja era organizada a partir de apenas duas funções. A primeira era a dos líderes das comunidades locais que eram os presbíteros. A palavra “presbítero” significa “ancião”, uma clara herança do judaísmo. O termo era, em um começo, intercambiável com “bispo” que significa “supervisor”. A outra função era a dos diáconos, palavra que significa servo ou ministro. Essa era a organização eclesiástica da metade do primeiro século. Com o passar do tempo o bispo começou a tornar-se mais visível e a ser denominado como líder de várias igrejas de uma região, principalmente, devido à necessidade de supervisão após a morte dos apóstolos. Essa supervalorização gradual do episcopado foi um dos erros que causou mais prejuízos à comunidade cristã. 

AS DESAVENÇAS E A FLEXIBILIDADE DA IGREJA 

Muitos, a partir dessa disposição primitiva, criam doutrinas e mais doutrinas sobre como deve organizar-se a igreja hoje. Outros, tomam passagens como Efésios 4:11 e crêem que a Igreja só alcançará sua plenitude se nela estiverem presentes um apóstolo, um profeta, um evangelista, um mestre e um pastor. Apesar de esse texto esconder profundas diretrizes para a Igreja, não creio que sua interpretação literal seja correta. 

Essa falta de consenso é causada pelo falta de informação bíblica sobre o governo e a organização eclesiástica. Mas por que a Bíblia omite esse ensino que seria tão importante para a igreja hoje? 

Eu acredito que Deus, ao inspirar os autores bíblicos, intencionalmente não incluiu uma sistematização a respeito da organização da igreja. Ele poderia tê-lo feito, assim como descreveu cada detalhe da construção do tabernáculo, mas não o fez. Creio que isso é assim pelo fato de a Igreja ter que adaptar-se à situação cultural e intelectual do mundo em que está inserida. Muitos conservadores dirão que a Igreja é construída sobre verdades absolutas e, por isso, é absoluta e não-passível de adaptação. Porém, muitas vezes, concedemos erroneamente à igreja o status imutável de Deus. 

Deus permitiu, pela flexibilidade da sua Palavra nesse assunto, que a Igreja fosse repensada a cada geração. A questão não é qual modelo de Igreja é o correto, mas qual modelo de Igreja será mais efetivo para satisfazer as necessidades da nossa geração? Isso pode mudar também de país para país, de cultura para cultura. O G12, por exemplo, pode ter dado certo na Colômbia (apesar de a quantidade não medir a qualidade de uma Igreja), mas mesmo em muitas igrejas sul-americanas não funciona. 

Talvez, se Paulo escrevesse hoje ele diria que cada igreja necessita de um missionário plantador de igrejas, um apologista, um pastor, um mestre, um líder de jovens e adolescentes que tenham uma linguagem específica, um administrador formado e um contador fiel. Talvez ele advertisse que hoje devemos ter reuniões caseiras para aqueles que nunca entrariam em uma igreja, e reuniões em templos, para aqueles que têm dificuldade de estar em um ambiente íntimo onde ele não conhece ninguém. 

Muito provavelmente, ele diria que ser apóstolo não é ser líder de várias comunidades. O status que os “apóstolos” de hoje têm é parecido com aquele que os bispos tiveram nos primeiros séculos da Igreja e que fizeram perverter a liderança proposta por Jesus. Talvez ele chamasse de apóstolos aqueles que sofrem para abrir novas igrejas. Ou ainda, ele preferisse que todos os títulos que indicam um governo autoritário, e não servil, fossem abolidos. Basta saber que há uma liderança na Igreja, escolhida não por méritos, mas pelos dons que Deus os deu, e que está lá para servir os santos, para ensiná-los a ser o sacerdócio real. 

E então, qual tipo de igreja pode alcançar as necessidades da sua cidade? Peça ao Criador criatividade e direção que, com certeza, Ele as dará!

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