Creio que não há nenhuma passagem da Bíblia que não transborde o amor de Deus. Essa passagem sempre foi um trecho que aceitava com facilidade. Jesus fez tanto por mim na cruz que o mínimo que eu devia fazer era amá-lo mais que a qualquer outra coisa nesse mundo. Nada mais que retribuir um amor que me foi dado.
O discurso parece bonito, mas no fundo eu sentia certo egoísmo divino nessa passagem. Como humano que sou pensava que Jesus tinha o total direito de pedir isso, dado todo o sacrifício praticado por Ele. Mas o amor incondicional e desinteressado de Jesus não encaixava muito bem nesse pedido.
Nesses últimos dias comecei a ver esse texto de uma perspectiva diferente. Meu avô, após muito tempo de complicações de saúde, veio a falecer na semana passada. Acho que não há lugar algum que o ser humano se sinta tão desprovido de certezas e tão inseguro do que quando se depara com um ser humano, igual a ele, morto. Creio que, no plano original do Criador, o ser humano não foi programado nem para morrer e nem para romper relações. Quando enfrentamos algumas dessas situações somos tomados de uma crise interna, por maior que seja a nossa habilidade de enfrentar confrontos emocionais.
Voltando ao dia do velório do meu avô. Todos estavam muito conformados, afinal já eram anos de debilidade física. Mas sempre há uma pequena crise reservada para quando nos deparamos com a realidade da morte. E a crise, se bem manejada, pode abrir a janela da nossa inteligência.
Nesse dia refleti muito. Pensei em várias situações. Pensei em diversas possibilidades e variáveis. Então, como que chegando ao fim de um labirinto, minha mente lembrou dessa passagem, que eu acreditava conter um teor de egoísmo divino. Percebi que, na verdade, este texto estava carregado de proteção e preocupação divinas.
Imagine como seria para nós, meros humanos, encarar a morte de uma pessoa amando-a mais que a Deus? Se amamos a Deus acima de qualquer coisa nós cremos no seu propósito e no seu compromisso com o nosso bem-estar eterno. Mas se há alguém acima dele, com certeza a ausência dessa pessoa geraria em nós uma rebeldia cega que nos afastaria de Deus e do seu propósito. Assim estaríamos fadados a viver a eternidade longe daquele que nos conquistou a possibilidade de viver uma vida sem fim.
Deus sabe que o homem adquiriu para si a infelicidade da morte. Não estava no projeto original dEle, porém na sua rebeldia original o ser humano pôs fim no desejo divino de viver eternamente na companhia do homem. Jesus conquistou novamente a vida eterna para a humanidade, porém ainda passamos pela morte do nosso corpo terrestre.
Para receber a vida eterna precisamos aceitar o sacrifício de Jesus por nós. Isso faz com que, infelizmente, nem todas as pessoas que amamos passem a eternidade conosco. Se amamos mais a uma pessoa que a Deus podemos cometer o erro gravíssimo e insano de rebelar-se contra Deus e abdicar do direito de vida eterna que temos. Porém, se amamos mais a Deus que qualquer outra pessoa, vamos ter a certeza que o final do filme da nossa vida seja feliz. Essa é a vontade de Deus para nós: um final feliz!
A proteção de Deus é abundante sobre nós. Seus propósitos eternos são encharcados e transbordantes de amor.